domingo, 7 de novembro de 2010

Movimentos de resistências na ocupação da África: França e Inglaterra

Muitas vezes o ensino de história tende a generalizar os acontecimentos e as reações diante dele. Ao falarmos da ocupação européia na áfrica devemos estar atento a esse fato e procurar mostrar as diversas formas de reações à dominação imposta pelos europeus neste continente. Levando em conta que a dominação não foi efetiva em todos centros, mas circunscrita aos pequenos centros e seus arredores, espaços de produção os e seus escoamento.

A resistência a esta ocupação tem um conjunto de pressupostos que se apresentam diversos quanto à forma e intensidade em um processo marcado pela violência, despropósito e irracionalidade o confisco de terras, formas compulsórias de trabalho, impostos e racismo.

As contradições em relação à resistência africana diante do domínio europeu está na pouca importância atribuída ao tema, pela crença da passividade dos africanos. A identificação dos movimentos de resistência como de pequena envergadura e desorganizado e a classificação das sociedades africanas em organizadas e hierarquizadas politicamente e aquelas desorganizadas e politicamente descentralizadas.

É preciso levar em conta que os movimentos de resistências tinham os mais variados motivos. Eram movidos por interesses econômicos, religiosos e sociais. Também não podemos através de uma visão maniqueísta dividi-los entre africanos subjugados tentando lutar contra invasores europeus, muitas vezes os africanos se aliavam aos europeus para lutar e conquistar territórios de outras tribos africanas. Muitos governantes africanos (denominados pelas mais diferentes nomenclaturas para definir um líder), optavam num primeiro momento pela submissão aos protetorados, e em outro momento quando essa submissão já não atendia seus interesses ou se via ameaçado em sua soberania optava pela resistência armada.

Referência bibliográfica

HERNANDEZ, Leila L. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.

BOAHEN, A. Adu; Comitê Cientifico Internacional para a Redação de uma Historia Geral da África - UNESCO. História geral da África VII: a África sob dominação colonial, 1880-1935. São Paulo: Ática, 1991.



Texto roteiro da apresentação efetuada pelas acadêmicas, que incluiu uso de imagens e a aplicação de um jogo criado pela acadêmica Daniela Pereira, com base no clássico War (r), envolvendo as estratégias de dominação e resistências na África Contemporânea.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ásia - divide et impera. A Índia. Parte II/final


Resistências -
Desobediência civil: O caminho de Gandhi.

Foi a partir da desobediência civil, apregoada por Gahdhi, a exemplo da Marcha do Sal, que foi quebrado o domínio inglês.




À Direita, selo comemorativo soviético ao vintenário do falecimento de Gandhi (http://static.hsw.com.br/gif/marcha-sal-gandhi-1.jpg)



À esquerda, Gandhi recolhendo sal natural, em desobediência às leis do sal. http://blog.taragana.com/n/wp-content/uploads/2009/10/411px-salt_march.jpg.

Cartaz comemorativo dos 75 anos da Marcha do Sal, destacando o itinerário. http://girame.files.wordpress.com/2008/05/map-saltmarch.jpg



Selo comemorativo à desobediência da Marcha http://www.kamat.com/mmgandhi/s175.jpg





Referências infográficas

Bianco, Lucien - Ásia Contemporânea, Siglo XXI Editores, História Universal Siglo XXI, Madri, 1976
Brown, Joe David - Índia, Time Incorporated, Nova Iorque, 1961
Embree, A.T.-Wilhelm, F.- Índia Siglo XXI Editores, História Universal Siglo XXI, Madri, 1974
Marx, Karl - O domínio britânico na Índia, Editora Alfa-Ômega, São Paulo, in Textos, vol. 3, s/data.
Naipaul, V.S. - Índia, um milhão de motins agora, Companhia das Letras Editora, São Paulo, 1997.
Panikkar, K.M. - A dominação Ocidental na Ásia, Editora Saga, Rio de Janeiro, 1969, 2ª ed.

domingo, 2 de maio de 2010

Ásia – divide et impera. A Índia – Parte II/B

Resistências sufocadas (ver post anterior)

Após dois meses, as tropas britânicas derrotaram o principal exército dos cipaios perto de Delhi, conseguindo sitiar a cidade com a ajuda de forças siques, pachtuns (grupo étnico-linguístico do norte da Índia) e gurkhas (força de elite do exército britânico na Índia). Duas semanas depois, a cidade foi tomada, Bahadur Shah foi preso e seus filhos, executados.
Também na região de Kanpur, com o apoio (apesar de não declarado), de Nana Sahib, houve revoltas; os cipaios sitiaram os britânicos e depois os massacraram, apesar da promessa de salvo-conduto. As mulheres capturadas foram executadas a machadadas, o que os britânicos usaram para declarar formalmente a guerra. Kanpur foi retomada. Nana Sahib escapou, mas provavelmente morreu tentando escapar da Índia.

A rebelião estendeu-se a várias regiões da Índia, mas as divisões internas e a força britânica levaram ao fim do movimento. A maioria dos cipaios foi executada por enforcamento.
Fotografia: cipaios executados, 1858. Fonte: http://www.territorioscuola.com/wikipedia/pt.wikipedia.php?title=Ficheiro:Indian_Rebellion_Hangings.gif





A Índia durante os conflitos

Estados rebeldes
1.Jhajjar, Dadri, Farukhnagar e Bahadurgarh
2.Amjhera
3.Shagarh
4.Biaj Raghogarh
5.Singhbum
6.Nargund
7.Shorapur
Protetorados britânicos/principados
A.Kashmir (Principado independente)
B.Kapurthala
C.Patiala
D.Sirmur
E.Bikaner
F.Jaipur
G.Alwar
H.Bharathpur
I.Rampur
J.Nepal (Principado independente)
K. Sirohi
L. Mewar
M. Bundi
N. Jaora
O. Bijawar
P. Ajaigar
Q. Rewa
R. Udaipur
S. Keonjhar
T. Hyderabad

Legenda: em preto, estados rebeldes; em azul escuro, estados fiéis à Coroa, mas com exército rebelde; em azul, protetorados; em marrom, áreas britânicas afetadas pela rebelião; em verde, estados neutros; em creme, extensão dos domínios britânicos (tradução pela autora). http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Indian_revolt_of_1857_states_map.svg


O fim da guerra dos cipaios


A revolta provocou o fim da administração da Cia. Britânica das Índias Orientais. Em agosto de 1958 a coroa britânica assumiu o governo da Índia, designando um secretário de Estado para os assuntos indianos, instiuindo-se o vice-rei da Índia como o chefe da administração local. A Cia. foi abolida e os britânicos procuraram integrar os governantes nativos na administração colonial.
O vice-rei terminou a política de anexações, decretou a tolerância religiosa e admitiu indianos no serviço público. Bahadur Shah foi julgado e condenado ao exílio.
Em 1877, a rainha Vitória recebeu oficialmente o título de Imperatriz da Índia, que foi integrada ao Império Britânico (Raj Britâncio)


Charge de 1876: Vitória em vias de se tornar imperatriz da Índia. A ironia vem da história de Aladim: o vendedor fala: “troco novas coroas por velhas!”. http://www.cartoonstock.com/vintage/directory/b/british_india.asp

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ásia – divide et impera. A Índia – Parte II/A

Nos posts que se seguirão, serão apontados aspectos relativos a resistências à dominação inglesa. A imagem se refere à Guerra dos cipaios.

Resistências – a Guerra dos Cipaios: Plano geral

1857: A Revolta dos Cipaios se espalha na Índia. Tal revolta, na verdade, é um processo de levantes armados e rebeliões ocorridas neste período na Índia (norte e centro), contra a ocupação britânica.
Outras grafias: Cipais e Sipaios. A palavra originalmente significa “soldado”, lembrando que o conflito iniciou-se com parte do exército hindu que servia aos britânicos e era por estes comandado. A rebelião, porém, envolveu também civis; assim, o nome cipaio estendeu-se a todos os rebelados.
As revoltas iniciam com pequenos incidentes em janeiro (1857), envolvendo incêndios criminosos em acampamentos militares. Em maio, ocorre uma revolta em grande escala, que toma proporções de guerra.
O conflito causou o fim do governo da Companhia Britânica das Índias Orientais e o início da administração direta de grande parte do território indiano pela coroa britânica(Raj Britânico) nos noventa anos seguintes, embora os “Estados Principescos" mantivessem a independência nominal e continuassem a ser governados pelos respectivos marajás, rajás, nababos e outros.

Alguns dados geopolíticos

A atual historiografia, principalmente a indiana, considera a revolta dos Cipaios o primeiro movimento nacionalista indiano que colocou em perigo o domínio inglês, apesar de ter sido totalmente sufocada dois anos depois.
A revolta ultrapassou as unidades militares locais. O descontentamento na Índia tinha origem na campanha de ocidentalização imposta pela Cia. Britânica das Índias Orientais.
O imperialismo “indireto” está entre as razões do descontentamento, já que a ocidentalização esbarrava em vários aspectos culturais e na política interna dos Estados indianos sob o regime de “protetorado”.

Conflitos políticos - exemplos

A doutrina de preempção (doctrine of lapse), definida pelo governador-geral Dalhousie, impunha à autoridade britânica a convalidação dos sucessores tradicionalmente adotados pelos dirigentes locais sem herdeiros do sexo masculino.
Na prática, a convalidação não era dada e os territórios eram anexados pelos britânicos após a morte do dirigente. Alguns casos:
1. Foi negado o título de peshwa (primeiro-ministro hereditário de Marata) para Nana Sahib , filho adotivo do peshwa então no poder (1857).
2. O imperador mongol Muhammad Bahadur Shah, sem descententes sanguíneos, foi informado de que seria o último de sua dinastia.

Conflitos culturais - Exemplos

1. Proibição do casamento de crianças e a tradição da sati (viúva que se imolava na fogueira funerária de seu falecido marido). Esta questão aparece no livro “Volta ao Mundo em 80 dias, de Júlio Verne.
2. Também perseguiram os tuques, adoradores da deusa Kali, que roubavam e matavam suas vítimas por estrangulação.
3. A justificada desconfiança dos indianos de que os britânicos queriam convertê-los por bem ou por mal ao cristianismo.
4. A profecia: passou a ser divulgada uma suposta profecia situada no século XVIII, segundo a qual o domínio da Companhia se encerraria ao término de 100 anos (1857).


Capa de “A volta ao Mundo em 80 dias”, edição de 1895. O livro foi publicado em 1872.



Resistências: a guerra dos cipaios


10/05/1857: parte do exército de Bengala, acampada em Meerut, amotinou-se e exterminou todos os europeus e cristãos indianos, marchando em seguida para Dehli.
Outros indianos uniram-se aos rebeldes, atacando Forte Vermelho e exigindo a devolução do trono a Bahadur Shah, que se tornou o chefe declarado do levante. Em Dehli, massacram todos os europeus e cristãos.
Por outro lado, os siques da região do Punjabe não queriam a restauração do Império Mongol, bem como os xiitas não queriam a volta do Estado comandado por sunitas. Tais divisões internas favoreceram aos ingleses.
O sul da Índia permaneceu fora dos conflitos. A gravura acima data de 1857 e represneta o ataque dos cipaios a Delhi. Fonte: http://www.worldproutassembly.org/images/daly_sepoy_mutiny_1857.jpg

terça-feira, 16 de março de 2010

Ásia – divide et impera: A Índia – Parte I/C

Controlando a Índia


Os portugueses foram os primeiros europeus a se estabelecer na região, com Vasco da Gama em 1498.
Em relação à Índia, contudo, o predomínio coube à Inglaterra, que se apossou definitivamente da Índia em 1763, após a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), quando a França fora obrigada a cedê-la aos ingleses.
A influência inglesa sobre a Índia, na verdade, tem início já no século XVII, através de tratados comerciais com a região.
Esses acordos, aos poucos, foram condicionando a Índia a perder sua autonomia política.

Neocolonialismo. Inglês lê cartas servido por indianos, início do século XX. ttp://libertario08.files.wordpress.com/2009/04/neocolonialismo-ingles-le-cartas-servido-por-indianos-inicio-do-sec-xx.jpg





A dominação e o arroz
•Entre as ideologias para dominação, está uma relacionada ao darwinismo social: o consumo de arroz. Durante quase cem anos, os ingleses chegaram a utilizá-lo para justificar a dominação da Índia.
•Os comedores de carne, diziam, precisavam tomar conta da multidão mantida pelo arroz subserviente.
•A ironia: os indianos não precisaram mudar o seu regime alimentar para mandar os comedores de carne de volta para casa.
•O fato: o cereal é base de alimentação de um terço da população do planeta, mas ainda é acusado de ser pouco nutritivo.

Plantação de arroz na Índia.
http://www.voyagesphotosmanu.com/Complet/images/cultura_arroz.jpg


Domínio, passo-a-passo

A questão política, quanto ao domínio inicial: o controle britânico se dava por meio do vice-rei, autoridade máxima na colônia, que prestava contas ao Ministério das Colônias, em Londres. Internamente, a Índia compreendia duas formas de administração: mais da metade do território era controlada diretamente por funcionários coloniais britânicos; havendo 562 principados de diversos tamanhos, sob a autoridade de governantes hereditários, hindus ou muçulmanos. Os títulos desses pequenos monarcas podia variar, mas o mais comum era o de marajá
Em meados do século XIX, os britânicos controlavam grande parte do território indiano e submetiam a população às regras de aduana e ao confisco de recursos naturais, antes pertencentes ao povo, e agora intermediados pelo comércio inglês.


Domínio com sal

O sal, por exemplo, foi um dos recursos naturais proibido de ser produzido pelos hindus, durante a dominação da Índia, pelos britânicos. Assim, os hindus, moradores da região banhada pelo oceano Índico, com várias salinas naturais, eram proibidos de produzir e comercializar o sal, que passou a ser monopólio inglês.
Com o monopólio, os hindus eram obrigados a comprar o produto dos britânicos. Caso descumprissem as "Leis do Sal", os indianos estavam sujeitos a brutais punições de violência física, repressão armada e prisão.

Ver texto: A Tributação do sal na Índia - Alguns apontamentos.

O sal tempera o domínio.
O mapa (destaque inserido pela autora) mostra as regiões de Pequena e Grande Rann de Kutch, milenares produtoras de sal. http://www.shunya.net/Pictures/WesternIndia/Gujarat/LittleRannKutch/RannMap.jpg

A “democracia” adora cercas


• À esquerda, a grande cerca da Índia, construída pelos britânicos para evitar o contrabando de sal. Observe que ela separa as regiões das grandes salinas naturais a leste e a oeste. Em preto, as regiões aduaneiras, em verde sobre preto, a cerca propriamente dita.
http://www.roymoxham.com/userimages/Hmap.gif
• A questão do sal foi uma das que ampliou os movimentos de resistência à dominação britânica. Na foto, trabalhadores das minas da Pequena Rann de Kutch, atualidade.
http://www.shunya.net/Pictures/WesternIndia/Gujarat/LittleRannKutch/LittleRannOfKutch.htm

sábado, 13 de março de 2010

Ásia – divide et impera: A Índia – Parte I/B

Os mapas foram inseridos para destacar alguns aspectos geopolíticos, culturais e étnicas da Índia.

A Índia em 1804

Legenda – livre tradução pela docente
1.Território britânico (rosa)
2.Estados sob protetorado/aliança com a Grã-Bretanha (amarelo-claro)
3.Estados independentes (verde)
4.Possessões portuguesas(rosa sobre verde – vide setas e círculos inseridos pela tradutora)
http://www.britishempire.co.uk/maproom/india/indiamap1804.htm




Is this my India? Pluralidade étnica, religiosa e linguística (1900)

http://www.wmcarey.edu/carey/maps/religion.jpg - números inseridos pela docente. O mapa data de 1900 e usa o conceito de raças.

Legendas (livre tradução pela autora)


Mapa 1 (etnias):
1. Tons de rosa: arianos
2. Tons de verde-claro: dravidianos
3. Tom de verde-escuro/hachurado: singaleses
4. Tons de azul-claro, azul e rosa-claro: mongóis (leste-asiáticos)

Mapa 2 (islâmicos por população total):
1.Branco: 0 a 5%
2.Verde-água: 5 a 40%
3.Verde-claro: 40 a 80%
4.Verde: mais de 80%

Mapa 3 (hindus por população total):
1. Branco: 0 a 5%
2. Rosa-claro: 5 a 40%
3. Rosa: 40 a 80%
4. Rosa-escuro: mais de 80%

Mapa 4 (outras religiões por população total):

Sikes
1. Verde-pardo: 5 a 20%
2. Verde: 20 a 40%
Jainis
1. Lilás: 1 a 5%
2. Rosa: 5 a 20

Budistas
1. Branco: 0 a 5%
2. Azul-claro: 5 a 40%
3. Azul: 40 a 80%
4. Azul-escuro: mais de 80%

As pluralidades

* A “Índia Britânica”: no território, regiões coloniais portuguesas e francesas.
* Culturalmente, era uma miscelânia de etnias, línguas e religiões.
* Etnias: maioria de indo-europeus, nome genérico do principal tronco da raça branca, com cabelos escuros e vários tons de pele. No norte (Himalaia), predominam os mongólicos; no centro, há alguns de etnia africana/negra.
*Línguas: falavam-se mais de 3 mil idiomas e dialetos (15 são mais falados).
*Atualmente: duas línguas oficiais: hindi (fala/escrita), inglês (legislativa/ judicial), 18 línguas oficiais (estados hindus). Total de línguas: cerca de 1.652, divididas em 14 grandes grupos (24 delas são faladas por mais de um milhão de pessoas).

O hindi é falado por cerca de 40% da população, mas compreendido por 75% desta.
Fonte: http://equattoria.blogspot.com/2008/07/sobre-os-povos-e-as-lnguas-faladas-na.html
Língua _____________População (em milhões)
Hindi ______________________407.9
Bengali ______________________84.2
Telugu ______________________79.8
Marathi _____________________75.5
Tamil _______________________64.1
Urdu _______________________52.5
Gujarati _____________________49.2
Kannada _____________________39.6
Malayalam ___________________36.4
Oriya _______________________33.9
Panjabi ______________________28.1
Assamese ____________________15.9
Sindhi ________________________2.5
Nepali ________________________2.5
Konkani _______________________2.1
Manipuri ______________________1.5
Kashmiri __________________68.000
Sanskrit __________________59.000

Línguas e minorias religiosas – Índia, 1973: permanência da diversidade

Legenda – livre tradução e retângulos inseridos pela autora

Línguas (por grupo linguístico)
1.Indo-ariana (amarelo-claro)
2.Dravidiano (laranja)
3.Tibeto-birmânico
4.GĀRO – linguagem ou dialeto [as línguas escritas em vermelho no mapa]
Minorias religiosas*
4% Percentagem estimada do Estado ou união territorial cuja população é islâmica.
C – Cristianismo (retângulos azuis)
B – Budismo (retângulos rosa - claro)
S – Sikismo (retângulos verdes)
J – Jainismo (retângulos vermelhos)
• O hinduísmo, religião majoritária na Índia (mais de 80% da população), não é mostrado no mapa.
•___________ Fronteira de Estado ou união territorial

Fonte: http://images.nationmaster.com/images/motw/middle_east_and_asia/india_lang_1973.jpg

Religiões: as mais professadas são: bramanismo (hinduísmo), majoritário; islamismo (em grande número), com as minorias adeptas do sikhismo, do janaísmo, do budismo, do cristianismo e animismo (mais raro)

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Ásia – divide et impera: A Índia – Parte I/A

Os post a seguir fazem parte de aulas expositivas-dialogadas, sendo originalmente apresentadas em slides.


A figura ao lado foi utilizada para representar a pluralidade hindu: suas cores, línguas, culturas e sabores.
http://thumbs.dreamstime.com/thumb_400/1242729068an8r3z.jpg



Abaixo, destaque para a Índia em relação ao globo.












Muitos olhos para a Ásia: a partilha da Índia



A Índia foi, no decorrer dos séculos XVI a XIX, uma das regiões mais cobiçadas por diversas nações européias.
Dela derivava o nome das terras “descobertas”: “As Índias”.
Os ingleses, no século XIX, assenhorearam-se da maior parte de seu território até o Ceilão (Sri-Lanka).
Impediram o surgimento de um poder central forte e estabeleceram um regime de "protetorado" sobre a Índia - regime que, na prática, significava a intervenção na administração local.
Ou seja, primeiramente agiu conforme o “imperialismo indireto”.

A Índia e suas representações no Grande Império Britânico – mapa original de 1886.




Índia, a joia da coroa

Algumas vezes pela força bruta, outras tantas por meio de intrigas promoivdas pelos britânicos, os principados em que a Índia estava dividida iam sendo submetidos à administração da Companhia das Índias Orientais, empresa britânica que detinha o monopólio do comércio com o Oriente.
A Índia, chamada de “A joia da coroa britânica”, se tornou a mais importante colônia do antigo Império Britânico, não só como fonte de matéria-prima, mão de obra barata e mercado, mas também como porta de entrada a outras regiões da Ásia, como foi o caso da China (por exemplo, na Guerra do Ópio - vide posts referentes).
A denominação oficial da chamada Índia Britânica era Império da Índia , na verdade um grande subcontinente que ia das fronteiras do Irã e Afeganistão (oeste) até os limites do Tibete e da China (norte e nordeste), e à divisa com o Sião (hoje Tailândia), a leste. Em 1937, a Birmânia (hoje Myanmar), ao sudoeste, passou a constituir uma colônia separada.

O Império britânico por si mesmo: Mapa-propaganda, mostrando o império britânico e anunciando: compre produtos imperiais daqui (“home”) e de além-mar. http://www.ux1.eiu.edu/~cfnek/syllabi/brit.htm

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A Tributação do sal na Índia – alguns apontamentos.

Introdução

O controle e tributação do sal, na Índia, na verdade é muito antigo. Contudo, passou a ser cada vez maior a partir do estabelecimento das Cia. Britânica das Índias Orientais e seu domínio gradativo sobre as províncias hindus. Em 1835, foram instituídos impostos especiais sobre o produto para facilitar a sua importação, o que gerou enormes lucros à Cia. Quando, porém, o governo britânico assumiu a administração da Índia, em 1858, os impostos não foram revogados, pelo contrário, se tornaram ainda mais rigorosos, o que gerou protestos veementes do povo indiano. Em 1885, na primeira sessão do Congresso Nacional Indiano (Bombaim); o problema foi levantado por um dos mais importantes líderes, S. Iyer. Contudo, os protestos diminuíram no final do século XIX e início do XX, quando ocorreu a grande Marcha do Sal, também conhecida como Satyagraha do sal (a palavra Satyagraha significa aproximadamente “firmeza da verdade”), promovida por Ghandi em 1930, a qual foi repetida em outras partes do país. O governante Rajagopalachari descumpriu neste mesmo ano as Leis do Sal, na região de Vedaranyam. Milhares foram condenados à prisão, dos quais muitos foram efetivamente presos. O governo finalmente cedeu e convidou Mahatma Gandhi para comparecer à segunda mesa redonda de negociações, na Inglaterra. O movimento promovido por Gandhi teve ampla cobertura jornalística, tonando-se um dos elementos mais importantes no processo de independência da Índia.
Apesar de tudo, o imposto sobre o sal, no entanto, continuou a permanecer em vigor e foi revogado somente quando Jawaharlal Neru se tornou Presidente do Governo Provisório, em 1946.

As regiões produtoras de sal na Índia e o domínio inglês

O sal é produzido ao longo de toda costa da Índia há, pelo menos 5.000 anos, sendo tributado por diversos povos ao longo de sua história. A produção é maior no oeste na região de Rann de Kutch, uma extensa baixada, que é cortada do resto do subcontinente indiano durante as monções, quando o mar a inunda as zonas baixas. Durante o verão, a água do mar evapora e deixa para trás uma crosta de sal, que se acumula e forma enormes salinas naturais. Os trabalhadores que recolhem o sal são chamados costumeiramente de malangis .
No leste, o sal pode ser obtido em grandes quantidades extensivamente ao longo da costa de Orissa, em minas khalaris, na região de Oriya, reconhecido como um dos melhores da Índia. A região de Bengala é uma das tradicionais consumidoras deste sal, e, quando o governo britânico assumiu o governo bengalês, percebeu o potencial deste negócio. Assim, aos poucos, foram monopolizando o sal de Orissa em toda Bengala; por fim, para evitar o contrabando e o transporte ilegal, eles enviaram os seus exércitos a Orissa, resultando na conquista da região em 1803.

A Tributação do sal pela Companhia Britânica das Índias Orientais

Em 1759, dois anos após a sua vitória na batalha de Plassey, a Cia. Passou a controlar a terra perto de Calcutá, onde era explorado o sal, e, para expandir seus lucros, dobraram a renda da terra e as taxas de trânsito impostas ao transporte de sal. Continuando sua expansão, em 1764, após a vitória na Batalha de Buxar, passaram a controlar todas as receitas de Bengala, Bihar e Orissa. O britânico Robert Clive se tornou Governador-Geral em 1765, tornou monopólio dos altos funcionários da Companhia a venda de tabaco, noz de betel, sal e outros produtos essenciais, além de especiarias e condimentos. Os contratos foram feitos para entregar as mercadorias aos depósitos de sal, nos quais os comerciantes então foram obrigados a comprar tudo de que precisassem. Os próprios ingleses reagiram, e as autoridades na Inglaterra declararam, em documento, o seguinte:
“Nós consideramos que é muito vergonhoso, e abaixo da dignidade da situação atual, a permissão de tal monopólio”.
A resposta Clive foi oferecer para a Cia. (não somente aos altos funcionários) uma enorme soma em libras, por ano, a partir dos lucros obtidos. Mas as autoridades inglesas não cederam, e pressionaram até obter o fim do monopólio do tabaco e noz de betel, em 1767, e do sal em 1768. Contudo, o então Governador-Geral Warren Hastings, em 1772 conseguiu trazer o controle do sal de volta para a Cia, com algumas mudanças nas regras. As foram arrendadas a fazendeiros, que entregavam o sal em uma taxa fixa para a Companhia. A empresa vendeu contratos de arrendamento pela melhor oferta, mas a corrupção corroeu o sistema criado, fazendo a receita com o comércio de sal decair vertiginosamente em 1780. Este problema, juntamente com a desumana a exploração dos trabalhadores (malangis) pelos proprietários, obrigaram Hastings a introduzir um novo sistema em 1780, no qual o controle do comércio voltava para o governo inglês. As minas foram divididas em Agências, controladas individualmente por um agente; tal sistema persistiu com pequenas modificações até a independência da Índia em 1947. De acordo com este novo sistema, o malangis vendia, diretamente, o sal para os agentes a um determinado preço. . Inicialmente, esse preço foi fixado em 2 rúpias por Maund (unidade medida de peso, equivalente a aproximadamente 600 g) com um imposto de 1,1 a 1,5 rúpias por Maund. Para os britânicos, o novo sistema foi um sucesso, visto que aumentou e muito o lucro com o sal já entre 1781 e 1782, e ampliando-se entre 1784-1785.
Contudo, de 1788 em diante, a empresa tomou a vender aos atacadistas, através de leilão. Este novo modo inserido pela Companhia das Índias Orientais fez com que o imposto aumentasse para 3,25 rúpias por Maund., bem como o preço de venda por grosso de sal aumentou de 1,25 rúpias para cerca de 4 rúpias por Maund. Tais aumentos se mostraram exorbitantes a ponto de poucos consumidores terem o privilégio de pagar pelo sal.
Em 184m durante a formação do império napoleônico, a Inglaterra consegiu consquistar a região de Orissa, estabelecendo imediatametne o monopólio do sal, dando, em troca, um adiantamento em dinheiro a cada malangi em troca da produção de sal. Na prática, o resultado foi o profundo endividamento dos trabalhadores e, pior, sua semi-escravidão. Os grandes proprietários da região, chamados de zamindars, que anteriormente controlavam o comércio do sal, ficaram estavam alarmados com a monopolização que resultou em uma perda súbita de rendimento; assim, tentaram estabelecer uma aliança com os malangis, para que não trabalhassem para os ingleses, mas sem sucesso.
. No início do século XIX, querendo tornar os impostos do sal ainda mais rentáveis e acabar com o contrabando, a Cia. Criou postos de fiscalização em toda Bengala, criando uma linha alfandegária, que era, na verdade, uma fronteira através da qual o transporte de sal foi “disciplinado”, para não escapar ao controle dos impostos aduaneiros. Na década de 1840, uma gigantesca cerca de espinhos foi erguida próximo às com fronteiras ocidentais da província de Bengala para evitar o contrabando de sal; a partir de 1857, a cerca foi ampliada a 2.500 milhas (cerca de 3750 k), ao longo da o longo da fronteira oriental da Índia e Orissa. Um documento da época traz a seguinte citação:
“Uma linha aduaneira foi estabelecida, que se estendia por toda a Índia, que em 1869 se estendia do Indo ao Mahanadi em Madras, uma distância de 2.300 milhas; era vigiada por cerca de 12.000 homens e pequenos oficiais [...] e consistia principalmente de uma cobertura imensa e impenetrável de árvores e arbustos espinhosos, complementados por uma muralha de pedra e valas, através da qual nenhum ser humano, animal de carga ou veículo poderia passar sem estar sujeito a detenção ou exame detalhado.

A Tributação do sal e o Raj britânico

As leis de tributação introduzidas pela Cia. continuaram vigorando durante o chamado Reino Britânico na Índia, que substitui a empresa no controle da região por noventa anos. A Índia também passou a ser conhecida como Índia Britânica ou Raj britânico (a palavra Raj significa “reino” em hindustâni (uma das muitas línguas faladas na Índia). A construção da cerca para impedir o contrabando de sal, iniciada durante o governo da Companhia, foi concluída durante este período As fontes indicam que, em 1858, 10% da receita da Índia britânica era oriundo de seu monopólio de sal; contudo, até o final do século XIX, o imposto sobre o sal foi consideravelmente reduzido. Apesar disso, em 1880 os rendimentos do produto foram ampliados a 7 milhões de libras. Durante. Em 1900 e 1905, a Índia foi um dos maiores produtores de sal do mundo, com uma produção de 1.021.426 toneladas e 1.212.600 toneladas respectivamente.
Nesse contexto, em 1923, sob o Vice-Reino de Mr. Reading, foi aprovada uma lei de duplicação do imposto do sal, mas uma proposta de novo aumento, em 1927, foi vetada.


As leis do sal

Como apontado, as primeiras leis para regulamentar o imposto sobre o sal foram feitas pela Cia. Britânica, não pelo governo. Já em 1835, o Governo nomeou uma comissão para rever o imposto, sendo recomendado que o tributo não atrapalhasse a venda do sal inglês. Assim, o sal foi importado a partir de Liverpool, o que causou o aumento das taxas do produto. Posteriormente, o governo decide estabelecer um monopólio sobre a fabricação de sal em lei própria e tornou a produção do sal um delito punível com seis meses de prisão. A comissão também recomendou que o sal indiano passasse a ser vendido em maunds de 100, porém, foi vendido em quantidades muito menores. Nesse período, o sal de Chesshire, do Reino Unido, era encontrado a preços bem menores, contudo, seu produto era de qualidade muito inferior ao da Índia, cujo sal continuou sendo comprado em enormes quantidades.
Em 1878, uma política fiscal uniforme sal foi adotada por toda a Índia, tanto a Índia britânica quanto os chamados “estados principescos”. Tanto a produção quanto a posse de sal foi considerada ilegal por esta política. O imposto sobre o sal em Bombaim, Madras, na Província Central e nos estados principescos ao sul da índia teve um significativo aumento, o mesmo ocorrendo na região norte, diminuindo apenas nas regiões de Bengala e Assam. O artigo 39 da lei do Sal de Bombaim lei equivalia aos artigos 16 e 17 da Lei do Sal Indiana, estabelecendo um preço oficial do sal, inferior ao que era produzido ilegalmente, para quebrar este tipo de produção, bem como tirar proveito “sal fora-da-lei” que estava sendo fabricado. O artigo da lei de Bombaim proibia o transporte de sal no exterior. A lei Indiana do Sal de 1882 incluía regulamentos de execução de um monopólio do governo sobre a recolha e produção de sal, e estabeleceu que o produto somente poderia ser fabricado e manuseado apenas em depósitos de sal oficial do governo, com taxas oficiais altas para tais atividades.


Efeitos do imposto sobre o sal sobre a saúde

O alto preço do sal tornou insustentável, resultando em uma série de doenças que surgem devido à deficiência de iodo.
Abhay Charan Das em obra publicada em 1881, escreveu:

“Em seguida, novamente há uma criatura ainda mais miserável, que leva o nome do trabalhador, cujo rendimento pode ser fixado em trinta e cinco rúpias por ano. Se ele, com sua esposa e três filhos, consome vinte e quatro porções de sal, deve pagar um imposto de sal de duas rupias e sete anas, ou em outras palavras, 7 ½ por cento do imposto de renda.. Agora vamos deixar para nossos leitores a julgar, se o ryots e os trabalhadores podem adquirir sal nas quantidades que eles necessitam. Podemos afirmar positivamente de nossa própria experiência, que um camponês comum nunca pode obter mais de dois terços do que ele exige, e que um trabalhador não mais de metade.
Em 1942, quando a Índia estava envolvida na Segunda Guerra Mundial, houve inúmeras mortes devido a deficiência de sal
Eu deveria fazer excursões especiais na Índia nos dias mais quentes (Junho) para observar os efeitos de calor em tais estações particularmente quentes [...]. A turnê de 1942 foi particularmente instrutiva, porque ela passou a ser uma temporada anormalmente quente (as temperaturas máximas de sombra nas estações acima foram entre 115 ° e 123 ° C. (46 ° C e 50,6 ° C) e porque nesse ano - o primeiro ano de guerra real para a Índia - não havia disposição sombra adequada para os homens, nem houve a realização geral da importância da ingestão extra de sal. Durante esta estação, houve 1.959 admissões hospitalares para os efeitos do calor e 136 mortes. Eu, pessoalmente, via 400 casos”
— Dr. - Dr. Marriott médico consultor, no Middlesex Hospital

Conclusões

As autoridades da Índia Britânica britânico não atenderam aos protestos massivos contra o imposto do sal que abalaram o país durante a década de 1930. A Marcha do Sal foi apenas parcialmente bem-sucedida, pois, apesar de forçarem os governantes britânicos forçados a vir para a mesa de discussão do imposto, este não foi eliminado. Foi apenas em 6/04/1946 que Mahatma Gandhi fez um pedido formal a Sir Archibald Rowlands, membro da Comissão Executiva de finanças do vice-rei para retirar o imposto, considerado opressivo. Rowlands formalmente ordenou, então, que fosse abolido imposto sobre o sal, mas a ordem foi vetada pelo vice-rei. O imposto sobre o sal continuou a ser cobrado até outubro de 1946, quando foi abolido pelo Governo Provisório da Índia, liderado por Jawahallal Neru.

Texto com base nos artigos online:

1. Mohinder Singh. " The Story of Salt " . http://www.mkgandhi.org/articles/the%20story%20of%20Salt.htm . Obtido 2008-05-09.
2. " The Salt Tax, Excerpted from The Great Hedge of India by Roy Moxham, Harper Collins, India 2001 " . http://iref.homestead.com/files/Salt.htm . Obtido 2008-05-08.
3. Kulke, Hermann; Dietmar Rothermund (2004). A History of India . pp. 290 . http://books.google.co.in/books?id=V73N8js5ZgAC&pg=PT290&dq=british+salt+tax&as_brr=3&sig=gScw3czHTkytpPkAr9UlGIycTF4#PPT290,M1.
4. Gandhi; Anthony Parel (1997). Hind Swaraj and Other Writings . Hind Swaraj e Outros Escritos. Cambridge University Press. Cambridge University Press. pp. 20.
5. " SALT MONOPOLIES 1.India " . http://salt.org.il/india.html. Obtido 2008-05-09.
6. Romesh C. Dutt (2001). “The Economic History of India in the Victorian Age http://books.google.co.in/books?id=j4tH9Mw92SAC&pg=PA149&dq=british+salt+tax+india&sig=WPsGuEZcwFwin7IBVV4zLaKS4B8#PPA149,M1 . Obtido 2008-05-09.