quinta-feira, 1 de abril de 2010

Ásia – divide et impera. A Índia – Parte II/A

Nos posts que se seguirão, serão apontados aspectos relativos a resistências à dominação inglesa. A imagem se refere à Guerra dos cipaios.

Resistências – a Guerra dos Cipaios: Plano geral

1857: A Revolta dos Cipaios se espalha na Índia. Tal revolta, na verdade, é um processo de levantes armados e rebeliões ocorridas neste período na Índia (norte e centro), contra a ocupação britânica.
Outras grafias: Cipais e Sipaios. A palavra originalmente significa “soldado”, lembrando que o conflito iniciou-se com parte do exército hindu que servia aos britânicos e era por estes comandado. A rebelião, porém, envolveu também civis; assim, o nome cipaio estendeu-se a todos os rebelados.
As revoltas iniciam com pequenos incidentes em janeiro (1857), envolvendo incêndios criminosos em acampamentos militares. Em maio, ocorre uma revolta em grande escala, que toma proporções de guerra.
O conflito causou o fim do governo da Companhia Britânica das Índias Orientais e o início da administração direta de grande parte do território indiano pela coroa britânica(Raj Britânico) nos noventa anos seguintes, embora os “Estados Principescos" mantivessem a independência nominal e continuassem a ser governados pelos respectivos marajás, rajás, nababos e outros.

Alguns dados geopolíticos

A atual historiografia, principalmente a indiana, considera a revolta dos Cipaios o primeiro movimento nacionalista indiano que colocou em perigo o domínio inglês, apesar de ter sido totalmente sufocada dois anos depois.
A revolta ultrapassou as unidades militares locais. O descontentamento na Índia tinha origem na campanha de ocidentalização imposta pela Cia. Britânica das Índias Orientais.
O imperialismo “indireto” está entre as razões do descontentamento, já que a ocidentalização esbarrava em vários aspectos culturais e na política interna dos Estados indianos sob o regime de “protetorado”.

Conflitos políticos - exemplos

A doutrina de preempção (doctrine of lapse), definida pelo governador-geral Dalhousie, impunha à autoridade britânica a convalidação dos sucessores tradicionalmente adotados pelos dirigentes locais sem herdeiros do sexo masculino.
Na prática, a convalidação não era dada e os territórios eram anexados pelos britânicos após a morte do dirigente. Alguns casos:
1. Foi negado o título de peshwa (primeiro-ministro hereditário de Marata) para Nana Sahib , filho adotivo do peshwa então no poder (1857).
2. O imperador mongol Muhammad Bahadur Shah, sem descententes sanguíneos, foi informado de que seria o último de sua dinastia.

Conflitos culturais - Exemplos

1. Proibição do casamento de crianças e a tradição da sati (viúva que se imolava na fogueira funerária de seu falecido marido). Esta questão aparece no livro “Volta ao Mundo em 80 dias, de Júlio Verne.
2. Também perseguiram os tuques, adoradores da deusa Kali, que roubavam e matavam suas vítimas por estrangulação.
3. A justificada desconfiança dos indianos de que os britânicos queriam convertê-los por bem ou por mal ao cristianismo.
4. A profecia: passou a ser divulgada uma suposta profecia situada no século XVIII, segundo a qual o domínio da Companhia se encerraria ao término de 100 anos (1857).


Capa de “A volta ao Mundo em 80 dias”, edição de 1895. O livro foi publicado em 1872.



Resistências: a guerra dos cipaios


10/05/1857: parte do exército de Bengala, acampada em Meerut, amotinou-se e exterminou todos os europeus e cristãos indianos, marchando em seguida para Dehli.
Outros indianos uniram-se aos rebeldes, atacando Forte Vermelho e exigindo a devolução do trono a Bahadur Shah, que se tornou o chefe declarado do levante. Em Dehli, massacram todos os europeus e cristãos.
Por outro lado, os siques da região do Punjabe não queriam a restauração do Império Mongol, bem como os xiitas não queriam a volta do Estado comandado por sunitas. Tais divisões internas favoreceram aos ingleses.
O sul da Índia permaneceu fora dos conflitos. A gravura acima data de 1857 e represneta o ataque dos cipaios a Delhi. Fonte: http://www.worldproutassembly.org/images/daly_sepoy_mutiny_1857.jpg

Um comentário:

Nanael Soubaim disse...

Matar em honra a Kali é analphabetismo flagrante, é como se negar a aceitar ajuda da defesa civil por acreditar que poderá andar sobre as águas da enchente.

Os ingleses não tiveram toda a culpa, pelo que vi aqui e já tinha lido noutras fontes, as farpas trocadas em âmbito doméstico ajudavam muito na dominação.