sábado, 19 de dezembro de 2009

Análise da carta à rainha Vitória

O texto abaixo é uma amostra das análises elaboradas pelos acadêmicos da carta publicada (ver post anterior). Não há interferências no texto.
As análises foram debatidas em sala, a partir de referências entregues aos acadêmicos previamente.

Acadêmica: Fernanda Mara Borba.
Análise de Documento Histórico – Carta à Rainha Vitória, 1839.

1. Assinalar o posicionamento da China mediante as investias imperialistas.
2. Estabelecer a forma de imperialismo praticada na região.
3. Enumerar as acusações feitas aos comerciantes ingleses, inclusive quanto à produção do ópio.
4. Pesquisar: como a Inglaterra recebeu a carta?

“Mas, durante o intercâmbio comercial que já existe há tanto tempo, entre os numerosos comerciantes estrangeiros que recorrem para cá, há o trigo e o joio, bons e maus, e estes últimos são alguns que, por meio da introdução de ópio, ardilosamente têm seduzido nossos súditos chineses, o qual fez todas as províncias do país transbordarem com o veneno. Estes, então, querem apenas à vantagem, eles não se preocupam com os danos causados aos outros!”. (LIN, p. 2, 1839).
“Todos os nativos dessa terra, que vende ópio, como também os que fumam, são semelhantemente julgados à morte. Pudéssemos nos voltar e assumir os crimes dos estrangeiros, que, ao vendê-lo por muitos anos, tendo induzido calamidade terrível e nos roubado de enorme riqueza, e [então] puni-los com a mesma severidade, as nossas leis não poderiam deixar de condená-los à absoluta aniquilação! [...] Mas, como se irá perdoar aquele que mais conscientemente viola as leis? Ele ou eles devem ser igualmente condenados às penas da nova lei”. (LIN, p. 2, 1839)
1) “Achamos que vosso país está distante de nós cerca de sessenta ou setenta mil milhas, que vossos navios vem para cá a lutar um com outro pelo nosso comércio, e pela simples razão de seu forte desejo de obter lucro. [...] 2) Por que princípio da razão, então, deve enviar esses estrangeiros em troca de uma droga venenosa, o que implica na destruição dos milhares nativos da China? Não é nossa intenção afirmar que os estrangeiros portam tais intenções destrutivas em seu coração, mas nós podemos, contudo, afirmar positivamente que, a partir de sua sede excessiva, após obter lucro, eles em nada se preocupam sobre os danos que nos infligem! [...] 3) Ouvimos dizer que no seu próprio país, o ópio é proibido com o máximo rigor e severidade – esta é uma forte prova que Vós sabeis muito bem como é prejudicial para a humanidade. Desde então Vós, que não permitis que ele venha para outro país e, acima de todos os outros, muito menos para a China! [...] 4) Vossa honrosa nação tira o produto da nossa terra, e não somente. Vós, assim, podeis obter alimento e suporte para vós mesmos, mas por outro lado, por voltar a vender esses produtos para outro países, Vós colheis um lucro triplo. Agora, se Vós deixásseis d vender somente o ópio, este lucro triplo ainda será garantido a Vós. [...] 5) É por esta razão nós agora endereçamos este documento público, a fim de que Vós possais saber claramente como severas e graves são as leis da dinastia da Terra Central [China], e certamente Vós fareis com que elas não sejam violadas precipitadamente!”. (LIN, p. 2-3, 1839).

O mandarim e a rainha
"Nós removemos montanhas e fizemos dos mares suaves avenidas, ninguém pode no resistir. Guerreamos a rude natureza; e com nossas poderosas máquinas, saímos sempre vitorioso e carregados de despojos”.T.Carlyle – "Signs of the Times", in Edinburgh Review, 1829.

Nem bem completara o segundo ano do seu reinado, a rainha Vitória, em 1839, recebeu uma extraordinária carta vinda do outro lado do mundo, da China. A missiva era de Lin Zexu, o comissário imperial de Cantão, encarregado de combater o contrabando do ópio nas costas chinesas. Apelou ele a majestade britânica, em termos educadíssimos, como somente os mandarins conseguiam se expressar, para que ela fizesse algum tipo de intervenção junto aos seus súditos que comerciavam com o Oriente no sentido de coibir o nefando tráfico de drogas feito pelos mercadores ingleses. Tráfico que ampliava cada vez mais o vício entre os súditos do imperador.
Queria evitar que a China fosse tomada pela "fumaça bárbara", efeito do ópio que eles traziam em seus barcos das suas plantações na Índia para vender nos portos do Império Celestial. Estranhava o comissário o reino britânico proibir o consumo daquela droga no seu território, mas não se mover para impedir que aventureiros navegando sob sua bandeira o fizessem livremente em outras bandas.
Em resposta, a rainha Vitória argumentou que bem pouco podia proceder sobre aquele assunto visto que seu reino advogava a favor do livre comércio. Além disso, um tanto de ópio era consumido sim pelos ingleses na forma de láudano e que seus efeitos não era assim tão devastadores.
A Guerra do Ópio
Não só isto, naquele mesmo ano, em novembro de 1839, o Parlamento da Grã-Bretanha aprovou - a pretexto de buscar reparar os prejuízos dos traficantes perseguidos pela política do comissário - uma declaração de guerra contra China.
Travou-se então, com rápida derrota dos orientais, uma das mais infames guerras da historia moderna: a Guerra do Ópio (1839-1841). Os chineses, capitulando, não somente foram obrigados a aceitar a importação do ópio como suspender a legislação que prejudicasse o seu consumo. Durante quase um século inalar o "veneno infiltrado", como disse Lin Zexu, passou a ser uma espécie de segunda natureza do povo chinês, quase que inteiramente dopado pelo colonialismo.
Nada disso, todavia, maculou a imagem da boa rainha Vitória junto ao seu povo, admirada no transcorrer dos seus 64 anos de reinado pelo alto padrão moral que exigia da corte, a ponto de vitorianismo confundir-se, ao largo do século 19, com moralismo e puritanismo.


SCHILLING, Voltaire Schilling. Inglaterra, a pérfida Albion. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/2004/10/25/000.htm. Acesso em: 20 set. 2009.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Carta à Rainha Vitória (Guerras do ópio)

Segue uma tradução prévia da Carta à Rainha Vitória enviada pelo Alto Comissário Lin (ver post anterior). Aceito sugestões a qualquer tempo para aperfeiçoá-la.

Sobre esta, foi feita uma análise pelos acadêmicos, das quais uma amostra será publicada em seguida.

Comissário Lin: Carta à Rainha Vitória, 1839

(*) Trechos entre colchetes indicam omissões ou inserção de trechos para facilitar a compreensão do documento.

Lin, alto comissário imperial, [...] declara conjuntamente resolver [tornar] esta expedição pública para a rainha da Inglaterra com a finalidade de dar-lhe informações claras e distintas sobre o estado de coisas [...].

É nosso único imperador, grande e poderoso, que tanto apóia e valoriza as terras do interior e aquelas de além dos mares, que olha para toda a humanidade com benevolência igual. [É ele, acreditando] que, se uma fonte de lucro existe em qualquer lugar, deve difundir-se por todo o mundo e que, se a árvore do mal tem raiz em qualquer lugar, deve arrancá-la para o benefício de todas as nações. É ele que, em uma palavra, tem implantado em seu peito o coração (por benevolência da própria natureza) o qual governa os céus e a terra!

A Vós, que sois a rainha de sua digna nação, que sentais em um trono ocupado através de sucessivas gerações de antecessores, os quais ali foram acondicionados com respeito e obediência. Olhando para os documentos públicos que acompanham a homenagem enviada (por seus antecessores), em várias ocasiões, encontramos o seguinte: "Todas as pessoas do meu país, chegando à Terra Central [nome oficial do império da China] para fins de comércio, têm de se sentir gratas ao Grande Imperador para a justiça mais perfeita, para o gentil tratamento", e outras palavras do mesmo feitio Sentimo-nos encantados, pois eis que os reis de vossa nação honrosa tão claramente têm compreendido os grandes princípios da decência, e eram tão profundamente gratos pela bondade celeste [do nosso imperado]:— portanto, era [justo] que nós, da dinastia celeste, nutríssemos estima por vosso povo de longe, e déssemos redobradas provas de nossa urbanidade e gentileza. É apenas a partir dessas circunstâncias, que a vosso país — tendo agora imensa vantagem decorrente da sua relação comercial conosco, que passamos já de duzentos anos —, o qual se tornou reino rico e próspero, que expressamos o que está a ser dito!

Mas, durante o intercâmbio comercial que já existe há tanto tempo, entre os numerosos comerciantes estrangeiros que recorrem para cá, há o trigo e o joio, bons e maus, e estes últimos são alguns que, por meio da introdução de ópio, ardilosamente têm seduzido nossos súditos chineses, o qual fez todas as províncias do país transbordarem com o veneno. Este é um princípio que à Divina Providência é repugnante, e que a humanidade conjuntamente olha com horror! Também o Grande Imperador tem ouvido tais fatos que, na verdade o fizeram tremer de indignação e, especialmente, me mandou, o comissário, a Cantão, que em conjunto com o vice-rei e Tenente-governador da província, os meios que possam ser tomadas para repressão [deste mal]!

Todos os nativos dessa terra, que vende ópio, como também todos os que fumam, são semelhantemente julgados à morte. Pudéssemos nós voltar e assumir os crimes dos estrangeiros, que, ao vendê-lo por muitos anos, tendo induzido calamidade terrível e nos roubado de enorme riqueza, e [então] puni-los com a mesma severidade, as nossas leis não poderiam deixar de condená-los à absoluta aniquilação! Assim, considerando que esses estrangeiros que ainda não alegaram se arrepender de seus crimes, e com um coração sincero implorar por misericórdia, eis que 20.283 caixas de ópio foram pilhados da loja de importados, através de Elliot, o superintendente do comércio de vosso país, solicitou que fossem entregue a nós, quando as mesmas foram totalmente destruídas. Deste fato que nós, o comissário imperial e demais funcionários, fizemos um memorial devidamente preparado para sua majestade; — considerando essas circunstâncias, temos recebido com alegria uma nova prova da bondade extraordinária do Grande Imperador, na medida em que, voluntariamente, ele se põe à frente [da questão], e entende que ainda pode ser considerado um tema adequado para misericórdia, e os seus crimes sejam graciosamente perdoados. Ele ou eles devem ser igualmente condenados às penas da nova lei.

Presumimos que Vós, a soberana de sua digna nação, a derramar vosso coração diante do altar da justiça eterna, não pode deixar de comandar todos os estrangeiros com o mais profundo respeito a reverenciar as nossas leis! Se nós tão somente colocarmos claramente diante de seus olhos o que é rentável e o que é destrutivo, então Vós ireis saber que os estatutos da dinastia celeste não podem deixar de ser obedecidos, com temor e tremor!

Achamos que vosso país está distante de nós cerca de sessenta ou setenta mil milhas, que vossos navios vêm para cá a lutar um com o outro pelo nosso comércio, e pela simples razão de seu forte desejo de obter lucro. Agora, fora a riqueza de nosso país, se tomarmos uma parte para outorgar a longínquos estrangeiros, segue-se, que a imensa riqueza que tais estrangeiros venham a acumular deveria esta pertencer a nosso próprio povo. Por que princípio da razão, então, deve enviar esses estrangeiros em troca de uma droga venenosa, o que implica na destruição dos milhares de nativos da China? Não é nossa intenção afirmar que os estrangeiros portam tais intenções destrutivas em seu coração, mas nós podemos, contudo, afirmar positivamente que, a partir de sua sede excessiva, após obter o lucro, eles em nada se preocupam sobre os danos que nos infligem! E como sendo o caso, gostaria de perguntar: o que aconteceu com a consciência que do céu foi implantado no peito de todos os homens?

Ouvimos dizer que no seu próprio país, o ópio é proibido com o máximo rigor e severidade: — esta é uma forte prova de que Vós sabeis muito bem como é prejudicial para a humanidade. Desde então Vós, que não permitis que ele venha a ferir o vosso país, não deveríeis ter a transferido droga prejudicial para outro país e, acima de todos os outros, muito menos para a China! Dos produtos que a China exporta para o exterior, não há um que não seja benéfico para a humanidade de uma forma ou outra. Tem China (gostaríamos de perguntar) acaso enviado um único artigo nocivo do seu solo? Para não falar do nosso chá e ruibarbo, coisas sem as quais o estrangeiro não poderia existir nem um único dia; se acaso nós, com rancor, negássemos o que é benéfico (não dizemos isso por querer vossa compaixão), então Vós poderíeis buscar meios para ainda existir?

E mais, no que diz respeito a sua lã, chamalotes e outros tecidos, se não fosse a Vós fornecidos os nossos tecidos nativos de seda crua, Vós nem ao menos poderíeis começar a procuzir tais tecidos! Nossos demais artigos alimentícios, como açúcar, gengibre, canela, etc, e os nossos outros artigos de uso, como o pedaço de seda, produtos, louças, etc, são todos de primeira necessidade para a vida de muitos de vossos filhos, a ponto de jamais conseguirmos contar quantos! Por outro lado, as coisas que vêm de seus países só servem para fazer presentes, ou para mera diversão. É exatamente o mesmo para nós se os tivermos ou não. Se, então, estes são de nenhuma conseqüência material para nós, porque nos seria difícil proibir e fechar o nosso mercado para eles?

A razão porque a nossa dinastia celeste livremente permite-vos tirar o chá, a seda e outros produtos, e encaminhá-las para o consumo em toda parte, sem a menor restrição ou rancor, não é por outro motivo, senão ser nosso desejo de, quando um lucro existir, que seja este difundido no exterior para o benefício de toda a terra!

Vossa honrosa nação tira o produto da nossa terra, e não somente Vós, assim, podeis obter alimento e suporte para vós mesmos, mas por outro lado, por voltar a vender esses produtos para outros países, Vós colheis um lucro triplo. Agora, se Vós deixásseis de vender somente o ópio, este lucro triplo ainda será garantido a Vós. Como podeis, então, querer renunciar tal lucro [benéfico] por um medicamento que é prejudicial aos homens, numa ânsia desenfreada pro lucros que parece não conhecer limites? Vamos supor que os estrangeiros viessem a vós, trouxessem de ópio à Inglaterra e seduzissem o povo de vosso país para fumá-lo, Vós não iríeis, como soberana do país em questão, olhar para tal procedimento com ira, e na sua justa indignação efetuar todo esforço para se livrar dele?

Agora temos sempre ouvido dizer que Vossa Alteza possui um coração bondoso e benevolente, então certamente Vós sois incapaz de fazer ou inflingir a outro aquilo que Vós não quereis mais que vos seja feitos! Temos, ao mesmo tempo, ouvido dizer que vossos navios que vêm para Cantão é, cada um deles, portador de um documento concedido pro Vossa Alteza, em que estão escritas estas palavras: "A vós não será permitido o transporte de mercadorias contrabandeadas,"; isso mostra que as leis de Sua Alteza são, na sua origem, tanto distintos quanto severos. Assim, só podemos supor que, porque os navios os quais chegam aqui têm sido muito numerosos, não tem sido dada a devida atenção à pesquisa e análise destes. É por esta razão nós agora endereçamos este documento público, a fim de que Vós possais saber claramente como severas e graves são as leis da dinastia da Terra Central [interior da China], e certamente Vós fareis com que elas não sejam mais violadas precipitadamente!

Além disso, ouvimos dizer que em Londres, a metrópole onde habitam, como também na Escócia, Irlanda e outros lugares, o ópio não é produzido. É apenas em diversas partes de seu reino colonial do Hindustão [parte da Índia], como Bengala, Madras, Bombaim, Patna, Malwa, Benares, Malaca, e outros lugares onde as montanhas são cobertas com a planta do ópio, onde os tanques são feitos para a preparação da droga; mês a mês, e ano após ano, o volume de veneno tem aumentado, o seu fedor imundo ascende, até que o céu se volte com raiva, e os deuses vos observem muito indignados! Porque a terra há de ser limpa de novo, e semear em seu lugar o cinco grãos [refere-se a arroz e outros cereais considerados puros], e se alguém ousar novamente plantar um só pé de papoula, que vós possais conferir a seu crime com a punição mais severa. Através de uma atitude governamental verdadeiramente benevolente esta, Vós ireis ter verdadeiro ganho, e acabar com uma fonte do mal. O céu irá apoiá-la, e os deuses irão vos coroar de felicidade! Para vós ficará si a bênção de vida longa, e desta procederão a segurança e a estabilidade de vossos descendentes!

Em referência aos mercadores estrangeiros que vêm à nossa terra, a comida que eles comem, e as moradias que lhes dizem respeito, tudo procede inteiramente da bondade de nossa dinastia celeste: os lucros que eles colhem, e as fortunas que se acumulam, têm sua origem apenas na medida em que parte do benefício que a nossa dinastia celeste gentilmente lhes atribui-lhes. Como estes passam a menor parte do seu tempo em seu país, e a maior parte no nosso, seguimos um costume advindo tanto dos tempos antigos como dos modernos segundo o qual devemos conjuntamente admoestar e, claramente, tornar conhecidos o castigo que os espera.

Suponde [soberana,] que o destino de outro país seria vir para a Inglaterra para o comércio, ele certamente seria obrigado a respeitar as leis da Inglaterra. Então quanto mais isso se aplica a nós do império celestial! Agora é um estatuto fixo deste império, que qualquer nativo chinês que venda o ópio é punido com a morte, e até mesmo aquele que só o fumam, não deve ser menos punido. Parar e refletir por um momento: se os estrangeiros não trouxessem o ópio para cá, onde o nosso povo chinês iria obtê-lo para voltar a vender? E, ainda, os estrangeiros que envolvem os nossos nativos simples no poço da morte, poderão [de seu crime] apenas eles escapar vivos? Se tanto como um daqueles privar que um do nosso povo de sua vida, deverá perder a sua vida em retribuição pelo que ele tomou, quanto mais isso se aplica a quem, por meio de ópio, destrói seus semelhantes? Será que o caos que ele comete [pode continuar a] parar com uma única vida? Por isso é que os estrangeiros que agora importam ópio na Terra Central estão condenados a ser decapitados e estrangulados pelo novo estatuto, o que explica o que dissemos no início cerca de arrancar a árvore do mal, onde quer que se enraíze, para o benefício de todas as nações.

Tivemos ainda que encontrar, durante o segundo mês do presente ano, o superintendente do vosso honroso país, Elliot. Este, vendo a lei em relação à proibição do ópio como excessivamente grave, devidamente pediu-nos "uma extensão do prazo já limitado, dizem cinco meses para o Hindustão e as diferentes partes da Índia, e dez para a Inglaterra, depois do que eles iriam obedecer e agir em conformidade com o novo estatuto", e outras palavras para o mesmo efeito. Agora nós, o Alto Comissário e colegas, após fazermos um memorial devidamente preparado para o grande imperador, temos de nos sentir grato por sua bondade extraordinária, por sua compaixão redobrada. Qualquer um que no próximo ano e meio por engano vier a trazer ópio para este país, e vier a se apresentar voluntariamente, e entregar toda a quantidade, será absolvido de toda e qualquer punição por seu crime. Se, no entanto, o termo designado houver expirado, e ainda haver pessoas que continuam a trazê-lo, então, devem tais pessoas ser enquadradas como tendo conscientemente violando as leis, e serão com toda a certeza condenadas à morte! Em nenhuma circunstância devemos mostrar misericórdia ou clemência! Isso então pode ser chamado verdadeiramente ao extremo de benevolência, e muito mais de perfeição da justiça!

A maioria certamente possui uma medida de divina majestade que não podeis imaginar! Porém não podemos matar ou exterminar sem aviso prévio, e é por essa razão que nós agora claramente vos damos a conhecer as leis fixas da nossa terra. Se os comerciantes estrangeiros dissessem que o desejo do vosso honroso país é para continuar suas relações comerciais, então eles devem obedecer, tremendo, nossos estatutos registrados. Eles devem cortar para sempre a fonte da qual os fluxos de ópio, e de modo algum, querer experimentar [o rigor] de nossas leis em si mesmos! Vamos então [levar] a sua alteza [para] punir os assuntos que possam ser de natureza criminal, em vez de se esforçar para projetá-los ou escondê-los, e assim Vós ireis assegurar a paz e a tranqüilidade de vossos bens, assim Vós tereis, mais do que nunca, mostrado um bom senso de respeito e obediência, e, assim, unidos podemos desfrutar das bênçãos comum de paz e felicidade. Que grande alegria! Que felicidade mais completa poderá ser!

Possa Vossa Alteza, imediatamente após o recebimento desta comunicação, não deixe de informar-nos rapidamente do estado de coisas, e da medida que Vós estiverdes buscando totalmente para pôr fim ao mal do ópio. De forma alguma venha [Vosso país] encontrar desculpas ou procrastinar. A comunicação [deve ser] o mais importante.

PS: anexo um resumo da nova lei, agora prestes a ser posta em vigor.

"Qualquer estrangeiro, ou estrangeiros, trazendo ópio para a Terra Central, com projeto de vendê-lo, [saiba que] seus líderes serão seguramente decapitados, e os ajudantes estrangulados, e de todos os bens (que se encontrarem a bordo do dito navio) devem ser confiscados. O espaço da um ano e meio é concedido, dentro do qual, se houver ópio trazendo por engano, [quem o houver trazido] e, voluntariamente dar passo em frente e entregá-lo a nossos superiores, este deve ser absolvido de todas as conseqüências de seu crime.”

Tal édito imperial foi recebido no dia 9 do mês 6 do ano 19 de Taoukwang, no qual o período de graça [ou seja, o espaço de tempo acima mencionado] começa, e vai até o dia 9 do 12 º mês do ano 20 de Taoukwang, quando é concluído.


Source: Fonte:

Chinese Repository, Vol. 8 (February 1840), pp. 497-503; reprinted in William H. McNeil and Mitsuko Iriye, eds., Modern Asia and Africa, Readings in World History Vol. 9, (New York: Oxford University Press, 1971), pp. 111-118.© Paul Halsall, October 1998 http://www.fordham.edu/halsall/mod/1839lin2.html

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (última parte)

Resistências

•A Revolta Taiping: Em 1851, eclodiu uma revolta de camponeses, que se espalhou da comarca de Yang-Tsé para outras regiões chinesas. Conhecida como a revolta Taiping, só foi sufocada em 1864.
•No fim do século XIX, Grã Bretanha, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão dividiam o imenso território chinês em diversas esferas de influência
• Tal condição vexatória na qual a China se encontrava, com perda da sua soberania e territórios, levou a outras revoltas de caráter nacionalista. O principal movimento contra o europeu na China é conhecido como Levante dos Boxers.
Pintura a óleo, reproduzindo o ataque das tropas imperiais chinesas à revolta de Taiping, publicada no jornal “L´Ilustracion”, de setembro de 1853. Pintor anônimo.
http://www.1st-art-gallery.com/thumbnail/133195/1/The-Chinese-Imperial-Troops-Attacking-The-Taiping-Rebels,-From-$27l$27illustration$27,-September-1853.jpg

Resistências: a guerra dos Boxers
•Os nacionalistas chineses reagiam contra intervenção estrangeira e ao tíbio comportamento da dinastia Manchu, então ocupante do trono imperial. No Norte da China, uma associação secreta, denominada Sociedade Secreta Harmoniosos Punhos Justiceiros, promoveu atentados e rebeliões contra estrangeiras e missionários cristãos.
•Em 1900, com respaldo popular crescente, os boxers (como eram conhecidos pelso europeus os membros da associação secreta) sitiaram o bairro ocupado pelas delegações estrangeira em Pequim. Foi o início da Guerra dos Boxers, que se espalhou das zonas costeiras para as cidades que margeiam o rio Yang-Tsé.
Cartão Postal alemão, usado em 1900, que satiriza soldados ocidentais durante a guerra dos Boxers na China, brigando entre si enquanto o chinês observa e sorri. http://collect.at/wordpress/?cat=33

Apoio aos boxers

•Evidenciando os muitos abusos cometidos pelos estrangeiros, a princípio a revolta foi reconhecida até por autoridades imperiais como uma insurgência legítima.
•Um dos cartazes espalhados por Pequim dizia "Odiamos profundamente os tratados que prejudicam o país e trazem calamidades ao povo. Os altos funcionários traem a nação; os baixos os seguem no jogo. O povo é injuriado mas não faltarão desagravos".
•Outros dos seus versos afixados nos templos chineses dizia: "quando os demônios de fora/ forem expulsos até o fim/ o grande Ching [a dinastia manchu reinante], unido, junto à nossa terra trará a paz enfim".Os rebeldes cercaram por 56 dias as legações estrangeiras que possuíam estavam na capital.

Litogravura. Chao (ou Tsao) Fu-tien, um dos líderes dos boxers.

A Guerra dos Boxers: o ocidente contra os “rebeldes”

•Apesar dos esforços do governo para suprimi-la quando passou a ser um problema, a Sociedade dos Boxers conta com o apoio popular crescente e promove rebeliões e atentados contra estrangeiros e missionários cristãos.
•Porém, todos os esforços se tornaram em vão e o levante foi abafado pelo exército formado por tropas ocidentais e japonesas.


Marinheiros australianos (a Austrália era colônia inglesa) na Guerra dos Boxers. http://homepage.powerup.com.au/~qdeck/sailors.JPG

•Para sufocar a rebelião, organizou-se uma junta internacional colonialista, com uma tropa composta por 20 mil soldados (japoneses; russo; ingleses,inclusive de colônias, como citado; americanos, franceses e depois por alemães) foi enviada para ocupar a sede imperial, onde penetrou em 14 de agosto de 1900.
•Os boxers, abandonados definitivamente pela imperatriz viúva Tsisi, foram cruelmente sufocados e suas lideranças decapitadas. "Arrasem Pequim!" - que seguissem o exemplo de Átila! essa foi a recomendação do imperador Guilherme II da Alemanha aos oficiais que partiam para a China.
•Depois dessa aberta e brutal intervenção militar, o outrora orgulhoso Império Celestial definitivamente tornara-se a "colônia de todas as metrópoles". Para infamar ainda mais as autoridades do império, os colonialistas obrigaram a que fossem chineses os carrascos que executaram as sentenças de morte dos principais líderes da rebelião de 1900.

Guerra dos Boxers na China: Postal usado na Alemanha, 1900.
Cartão postal satírico, alusivo a marinheiros alemães batendo em chineses. No canto superior direito, o retrato de Klemens von Ketteler, assassinado em Pequim em junho de 1900, início da Rebelião Boxer. http://collect.at/wordpress/?tag=boxer-rebellion

As rotas da guerra

•Mapa original de 1900. Ho Yi Tuan (Guerra dos Boxer) – Rotas de Invasão das 8 forças aliadas para Pequim e região.
•As chamadas 8 nações aliadas desembarcaram suas tropas em vários pontos da costa chinesa. O primeiro objetivo era remover o cerco dos revoltosos a Pequim, no entanto, a missão global foi punitiva, tanto contra os Boxers quanto contra as resistências chinesas.A luta terminou com a derrota dos chineses e a imposição pelas potências estrangeiras da política da "Porta Aberta", pela qual a China era obrigada a fazer novas concessões econômicas.
•http://www.drben.net/files/China/Source_Materials/China_Maps/Ching_Dynasty/Invasion_Routes_1T.jpg

O Ocidente sufoca a China

•Portanto, este breve resumo da história da China no século XIX, evidencia as políticas de expansão de poder ou dominação de um Estado ou sistema político sobre outros.
•Tal política, como já referido, é o imperialismo, cuja expansão se realiza através da conquista ou anexação de territórios, pelo estabelecimento de protetorados e, principalmente, pelo controle de mercados ou monopólios.
•A política imperialista não tem como objetivo necessariamente a expansão territorial e sim a ampliação do mercado através de uma política econômica liberal. Por sua vez, pode-se perceber que esta envolve sempre o uso da força e tem como conseqüência a exploração econômica, em prejuízo dos Estados ou povos subjugados.
•Além de exibir o imperialismo, a história chinesa no século XIX mostra o discurso nacionalista sendo assimilado pelos povos dominados, ou seja, pelas nações economicamente fracas.
•Nessa questão quanto à China, pode se perceber um discurso atual, no qual o nacionalismo é apresentado como fundamento para opressão, ou seja, mostra um discurso que ao nível externo resulta no expansionismo, mas internamente resulta em xenofobia.

Algumas referências

•ADLER, Solomon - La economia China, México, F.C.E., 1957.
•BIANCO, Lucien - Ásia Contemporanea, Madri, Siglo XXXI, 1976.
•BIANCO Lucien - Los origenes de La Revolución China, Caracas, T. Nuevo, 1970.
•CARR, E. H. - El socialismo en un solo país (1924-26), in História dela Rusia Sovietica, vol 3, 2ª parte, Madri, Alianza, 1976.
•CHANG, Iris - The rape of Nanking, Nova Iorque, Penguin Books, 1997
•LENIN, V.I., El despertar de Asia, Moscou, Ed. Progresso, 1979.
•MAO TSE-TUNG - Obras Escogidas, Pequim, L. Extranjeras, 4 vols, 1968.
•PISCHEL, Enrica - História da Revolução Chinesa, Lisboa, Europa-América, 3 vols, 1976.
•SPENSER, Jonathann D. - Em busca da China moderna, Companhia das Letras, São Paulo, 1966











domingo, 15 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (II)

As Guerras do Ópio

•Apesar da carta de Lin e dos avisos do governo chinês, o comércio prosseguiu, levando as autoridades chinesas a promover, em 1839, a queima de 20 mil caixas da substância na cidade de Cantão.
•Através desta reação, a China havia oferecido a Inglaterra tudo o que ela mais precisava para subjugar o território chinês ao seu mando, ou seja: um pretexto para a pequena ilha declarar guerra ao território continental da China.
•Os britânicos, em retaliação, declararam guerra à China: era o início da Primeira Guerra do Ópio.
Gravura:
Depósitos de ópio da Companhia das Índias Orientais na Índia:
uso de uma colônia para enfraquecer a China.
http://pt.wikipedia.org/wiki /


O tratante tratado

•Houve duas Guerras do Ópio, uma entre1839 e 1842 e a outra entre 1856 e 1860. Ao final, por meio de sua superioridade bélica, a Inglaterra aniquilou o poderio chinês, forçando o imperador manchu à rendição. Conseqüentemente, o governo imperial da China foi constrangido a assinar o Tratado de Nanquim, que colocou fim definitivo no embate, em 1842.
•O Tratado de Nanquim - principais cláusulas:
1.a abertura de cinco portos chineses ao livre comércio, em caráter permanente: Xangai, Ningpó, Fu-tcheu, Amói e Cantão;
2.a imunidade e os privilégios especiais aos súditos britânicos
3.regular as tarifas de comércio
4. transferir a cidade Hong Kong à Grã-Bretanha pelo tempo de 100 anos.
Gravura: Ataque inglês à China. http://www.iped.com.br/sie/uploads/10833.jpg

O dragão abatido

• Para a Inglaterra, este tratado assumiu o primeiro passo para suas grandes pretensões de transformar a população chinesa em um grande mercado consumidor, no qual os milhares produtos industrializados seriam comercializados No entanto, o mercado existente na China era para o ópio e não para os outros produtos britânicos.
• Para a China, o Tratado de Nanquim representou a abertura de precedentes para outras nações de caráter imperialista e perda de parte de sua soberania.
Gravura: vitória do Ocidente sobre o dragão Chinês: cartaz celebrando a vitória inglesa. http://img.terra.com.br/i/2008/08/13/835983-8688-cp.jpg
Observar as semelhanças com a iconografia de São Jorge, padroeiro da Inlgaterra.
A um tratado seguem outros: um mal nunca vem sozinho

•A perda de interesse nos cinco portos abertos anteriormente se tornou evidente, a miragem do mercado inesgotável continuava, logo, novos pretextos foram arrumados para se estabelecer mais duas Guerras do Ópio, travadas em 1856 e 1858, com apoio da França aos britânicos.
•Por causa destes dois combates, novos tratados foram assinados, evidenciando ainda mais a perda da soberania chinesa sobre seu território. Nestes tratados foi estabelecida a abertura de mais de 11 portos; jurisdição autônoma para os processos estrangeiros; liberdade de ação para as missões cristãs; direito de manutenção de representantes permanentes nas alfândegas chinesas, entre uma série de outros direitos que feriam o governo chinês.
Gravura:
Assinatura do Tratado de Naquim, o primeiro de uma série.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Nanjingtreaty.jpg/400px-Nanjingtreaty.jpg

Balanço geral dos tratados(1842 – 1901): o dragão agonizante

Gravura: Os “frutos” das guerras do ópio.
Detalhe: no fruto da papoula, a seiva.
•1842 - Tratado de Nanquim: a China concede à Inglaterra, em razão da sua derrota na 1ª Guerra do Ópio, a abertura de cinco portos, a entrega a ilha de Hong Kong em caráter perpétuo e uma indenização aos traficantes expropriados por Lin Zexu (o diplomata que enviou a carta à Rainha vitória), no valor de 6 milhões de liang de prata, mais 12 milhões aos ingleses como despesa de guerra.
•1843 - Tratado complementar de Hu-men: a Inglaterra recebe o tratamento de nação mais favorecida, fazendo com que suas mercadorias paguem apenas 5% de imposto ad valorem
•1844 - Tratado de Wangxia: assinado com os E.U.A. Todos os privilégios concedidos aos ingleses são estendidos aos americanos , inclusive o direito de enviar barcos de guerra aos portos abertos ao comércio para proteger os interesses dos negociantes americanos. 1844 - Tratado de Huangpu: assinado com a França. Confirma os privilégios concedidos nos tratados anteriores, mais o fim da proibição de difundir o catolicismo nos portos abertos ao comércio.
•1858 - Tratado de Tianjin: assinado com a Grã-Bretanha, Rússia, E.U.A.e França, como resultado da derrota chinesa na 2ª Guerra do Ópio (1856-1860). Estabelecimento de delegações estrangeiras em Pequim. Abertura de mais 10 portos chineses ao comércio internacional ( Niuzhuang, Dengzhou, Tainan, Danshui, Chaozhou, Qiongzhou, Hankou, Jiujiang, Nanjing e Zhenjiang). Livre trânsito dos estrangeiros, particularmente dos missionários cristãos, pelo interior do país e livre navegação dos barcos de guerra. Indenização de guerra a ser paga à Inglaterra (4 milhões de onças de prata) e à França (2 milhões). Os tratados sino-britânico e o sino-francês, em 1860, aumentaram o valor para 8 milhões de onças de prata. Os ingleses ampliaram seu domínio na região de Hong Kong ao se apropriarem da península de Kaulun. Legalização definitiva do comércio de ópio administração alfandegária conjunta de ingleses e chineses. Em 1860, outorgou-se a sir Robert Hart o cargo de Inspetor Geral das Aduanas, mantida até 1908.
•1858 - Tratado de Aihui, assinado com a Rússia, que, complementado com uma série de outros tratados , fizeram a China ceder 1.500.000 km2 do seu território. Em 1881, pelo Tratado de Yili, mais 90 mil km2 foram entregues aos russos., juntamente com os portos de Vladivostok e Port Arthur.
•1895 - Tratado de Shimonoseki, assinado com o Japão, como resultado da derrota chinesa na guerra sino-japonesa de 1894-5. A China cedeu a península de Liaodong ( mais tarde arrendada à Rússia por 25 anos), a ilha de Taiwan ( Formosa) e mais 235 pequenas outras ilhas, o arquipélago de Penehu ( ilhas dos Pescadores) e uma indenização de 200 milhões de liang de prata. Abriu também as cidades de Shanshi, Chongqing. Suzhou, Hangzhou e aceitou a tutela definitiva do Japão sobre a Coréia.
•1897 - Arrendamento da baía de Jiazhou por 99 anos à Alemanha, bem como a permissão da construção de uma estrada de ferro ligando Jiaozhou a Jinan, com direitos de exploração das minas encontradas a 15 km de cada lado dela. Depois do Tratado de Versalhes, de 1919, a China reivindicou o controle dessa região, mas as potências coloniais entregaram-na ao Japão, o que gerou o Movimento de Maio de 1919, início da rebelião estudantil- nacionalista chinesa contra o domínio colonial
•1899 - Política de “portas abertas” proposta pelos EUA, pela qual todo o país que tivesse obtido concessões da China as repartiria com os outros, com “igualdade de oportunidades” e “divisão conjunta dos benefícios ”. Anuíram: Inglaterra, Rússia, Alemanha. Japão, Itália e França .
•1901 - Protocolo dos Boxers ( Movimento Yiethuan), assinado pelo governo Qing com as 8 potências colonialistas, devido à sangrenta intervenção militar destas em Pequim para sufocar a rebelião nacionalista dos boxers (Yiethuan), que cercara as legações estrangeiras na capital imperial.Cláusulas: indenização de 450 milhões de taéis (U$ 333 milhões), a ser paga pela China durante os 39 anos seguintes, até 1940, quando atingiria quase 1 bilhão de taéis. O governo imperial ficou encarregado de executar os principais líderes do levante.
•Os chineses não poderiam mais entrar nos bairros das delegações estrangeiras, as quais poderiam, porém, cercar suas tropas; também foram obrigados a desmontar a fortaleza de Dagu. Na prática, Pequim poderia ser ocupada quase imediatamente por qualquer guarnição estrangeira acampada nos seus arredores.

O dragão ferido
Gravura:
O dragão: sagrado na China, representa o mal no Ocidente, não por mera coincidência.

•Estes tratados produziram na um grande impacto negativo sobre sua produção artesanal, causando desemprego e fome; uma maior repressão à população camponesa; monopólio da educação pelas missões francesas; e, o mais grave: a perda praticamente total da soberania do governo chinês sobre seus territórios.
•Karl Marx assinala, sobre a questão: “a primeira condição de preservação da Velha China era seu total isolamento. Uma vez que a Inglaterra deu fim brutal a esse isolamento, a decomposição sobrevirá com a mesma inexorabilidade de uma múmia retirada do hermético sarcófago em que estava preservada e exposta ao ar livre” ( MARX, Karl. Revolution in China and in Europa in http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/china_3.htm)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (I)

Os próximos posts foram adaptado de aula expositiva-dialogada. As referências virão ao final das postagens.

•Durante muito tempo, a China foi comercialmente assediada pelos países europeus. As inúmeras tentativas ocidentais de estabelecer um comércio fixo com o Reino Celestial indicavam o desejo por mercadorias chinesas, tais como: seda, porcelana e chá.
•Contudo, o império manchu nunca viu com bons olhos uma possível relação comercial com a Europa e sua posição sempre foi de quase total fechamento ao mercado externo.





O início do assédio
•Esta atitude era evidenciada pelas poucas transações comerciais existentes, que eram autorizadas em alguns poucos portos ao sul, principalmente em Cantão. No mapa, a região aparece como Guandong: http://www.cao.pt/image/cantao.gif

•Este foi o panorama que vigorou até o início do século XIX, período marcado pela expansão da industrialização européia, e, conseqüentemente, pelo surgimento das grandes potências imperialistas.


Ópio contra a China

•Assim, nos séculos XVII e XVIII, os europeus encontravam dificuldade para comerciar no interior da China. O governo central colocava empecilhos aos comerciantes estrangeiros que, mesmo assim, foram pouco a pouco penetrando no país. Ao contrário da Índia (onde se comerciava diretamente com os príncipes locais), a China mantinha sua unidade política, com o imperador fazendo sentir sua autoridade sobre as mais distantes províncias. Para cada negociação, o estrangeiro tinha de relacionar-se com o governo central.
•No século XIX, no entanto, o poder central praticamente já não detinha autoridade sobre o seu território. Inicialmente, os britânicos compravam chá, sem conseguir vender aos chineses algum produto em igual quantidade, mas descobriram que o ópio era uma mercadoria de grande aceitação entre a população chinesa. Com aprovação do governo britânico, a Companhia das Índias Orientais lançou-se à venda do ópio, que era produzido na Índia e na Birmânia, com efeitos terríveis.

Papoula, matéria-prima do ópio.



Ópio: a ruína do Império.
•Infiltrando-se na Índia, através da Companhia Britânica das Índias Orientais, a Inglaterra descobriu uma maneira de acabar com o protecionismo da China.
•Adjacente ao território chinês, e, sendo a maior produtora de ópio do período, a Índia se tornou fornecedora do produto que arruinou o isolamento comercial do império manchu.
•Este entorpecente logo se transformou em uma praga entre chineses, e, seu contrabando foi considerado muito lucrativo para Inglaterra, principalmente, à medida que este entorpecente virou moeda de troca para obtenção de mercadorias chinesas.
•Porém, a Inglaterra investindo no comércio do ópio no território chinês, conseguiu apenas uma parte de seus objetivos, pois suas pretensões eram maiores e não se resumia apenas no comércio dos apreciados produtos chineses.



A China reage: a carta de Lin e a nova lei chinesa(1839)


•Com o tempo, o ópio começou a provocar vários malefícios na população chinesa, provocando uma atitude do governo manchu a este produto, que tanto prejudicava seu povo.
•O governo chinês reagiu enviando uma carta diplomática à rainha Vitória, da Inglaterra, para que a Soberana proibisse o comércio de ópio ilegal na China. Mas o pedido não foi levado em consideração.
•Em 1839, o imperador chinês mandou executar uma política sistemática de confisco do ópio contrabandeado no porto de Cantão, assim como, a prisão e expulsão de seus principais mercadores.
•Mapa: http://www.historianet.com.br/imagens/neocolonialismo2.jpg

A China cercada de colônias:
1.Britânicas
2.Francesas
3.Portuguesas
4.Alemãs
5.Japonesas
6.Holandesas

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Partilha da África - Possessões alemãs e italianas

O texto a seguir foi originalmente apresentado em forma de slides (Power Point- TM), pelas acadêmicas: Angela, Débora, Gilmara e Priscila D.
O formato original foi convertido para este post, preservando as imagens utilizadas pelo grupo e seu conteúdo na íntegra. As referências estão ao final.

Impressões do trabalho de pesquisa
Complexo.
Informações desconexas nas referências encontradas.
Pouca referência.
Dificuldade em elaborar um material didático pela falta de referências.

Colônias Alemãs: África Oriental, Sudoeste africano, Camarões e Togo.






Cartaz colonialista alemão do inicio do século:
“Sem nossas colonias,
não teríamos matéria-prima”











África Oriental Alemã em vermelho; e outras colônias alemãs
em azul












Colônias Italianas: Líbia, Somália, Parte da Argélia e Tunísia.

Somália





Bandeira da África Oriental Italiana






Somália










Como se deu a colonização:

Divisão do território – Conferência de Berlim (1884)
Os dois países entraram por último na disputa territorial por conta do tardio processo de unificação nacional, isso fez com que seus territórios coloniais fossem mais reduzidos.
Após a conferência, o continente africano estava dividido geograficamente, cada país participante desta conferência recebeu uma parte do território para exploração.

Concessões Italianas e Alemãs – processo de colonização...


Alemanha
“Os alemães conseguiram estabelecer efetivamente sua dominação no sudoeste da África no final do século XIX, essencialmente em função da hostilidade de mais de um século que impedia a união dos Nama e dos Maherero. No Togo, os alemães aliaram-se aos pequenos reinos dos Konkomba, dispersos, e dos Kabre. Em Camarões foi ao norte que o comandante alemão major Hans Dominik encontrou mais dificuldades. Em compensação, a conquista da África Oriental alemã foi a mais feroz e a mais demorada de todas as guerras de ocupação efetiva, prolongando-se de 1888 a 1907” BOAHEN,1991, p. 60.


Concessões Italianas e Alemãs – processo de colonização...

Itália


“Em 1883, teve êxito em ocupar uma parte da Eritréia. Também já obtivera a costa oriental da Somália, depois da primeira partilha do Império Omani, em 1886. A Itália informou as outras potências européias que a Etiópia era um protetorado italiano, mas ao tentar a ocupação deste protetorado fictício, sofreu uma derrota em Adowa, em 1896. Conseguiu, no entanto, conservar seus territórios na Somália e na Eritréia. Na África do Norte somente em 1911 é que a Itália logrou ocupar as zonas costeiras da Cirenáica e da Tripolitânia (atual Líbia). BOAHEN,1991, p. 60.

Permanências e mudanças...


A colonização comprometeu duramente o desenvolvimento da África. Hoje o continente abriga boa parte dos países mais pobres do planeta. “No plano político, o legado do colonialismo inclui a tradição de administração de cima para baixo, a persistência de burocracias que fornecem poucos serviços e um baixo senso de identidade e interesse nacional. Os Estados são geralmente fracos, ineficientes e brutais”, diz Shear. “Economicamente, o colonialismo produziu, em sua maior parte, economias dependentes, monoculturistas e não integradas, que atendem prioridades externas e não internas.”

A situação atual dos países africanos pode ser atribuída à pressa que os colonizadores tiveram em transformar a realidade local. Isso fez com que o continente pulasse etapas importantes. “O maior problema é que, em apenas algumas décadas, as sociedades tradicionais africanas foram lançadas em uma situação totalmente desconhecida. Você não pode criar um sistema capitalista e Estados democráticos de um dia para outro, em poucas gerações. As próprias sociedades tradicionais européias precisaram de séculos para chegar a esse resultado”, diz Guy Vanthemsche. Essa chance nunca foi dada aos africanos.
In: http://historia.abril.com.br/politica/partilha-africa-434731.shtml

Concessões Italianas e Alemãs cronologia...


1880 – Empresas alemãs se estabelecem nos Camarões.
1884 – Fundação da Sociedade Alemã de Colonização.
1885 – Protetorado alemão na África Oriental
- Italianos tomam a Eritréia.
- Fundação da Companhia Alemã da África Oriental.
1889 – A Itália adquire a Somália.
1912 – Aquisição da Líbia pela Itália.



REFERÊNCIAS


nBOAHEN, A. Adu; Comite Cientifico Internacional para a Redação de uma Historia Geral da África - UNESCO. História geral da África VII: a África sob dominação colonial, 1880-1935. São Paulo: Ática, 1991.
nHERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. São Paulo: Selo Negro, 2005.
nBRUNSCHWIG, Henri. A partilha da África Negra. São Paulo: Perspectiva, 1974.
nMACKENZIE, J. M. A partilha da África: 1880-1900, e o imperialismo europeu no século XIX. São Paulo: Ática, 1994. 78 p
nSite:
nhttp://www.tamandare.g12.br/Aulafrica/conferencia%20de%20berlim.htm, acesso em 11/07/2009.






























































Colônias Italianas: Líbia, Somália, Parte da Argélia e Tunísia.







sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Fichamento Crítico – Colhendo tempestades: a luta pela normalidade na Rússia

O texto a seguir fez parte de uma proposta apresentada à turma para ler e debater o livro " O Fim da Pobreza", como forma de ampliar as visões acerca do conceito de imperialismo. A partir desta proposta, foram elencados alguns capítulos para discutir a visão do autor, bem como as questões relacionadas ao imperialismo e suas permanências, pontuando com o texto de Rui Namorado Rosa e o livro " O imperialismo", de Hector Bruit (todas as referências no primeiro post). Os acadêmicos também elaboraram um fichamento crítico do capítulo sorteado. O que se segue é de autoria da acadêmica Fernanda Mara Borba.
Originalmente estava em formato de tabela, mas precisou ser alterado para esta postagem.

PÁG. CITAÇÕES E COMENTÁRIOS
Colhendo tempestades: a luta pela normalidade na Rússia.
164 Autor – viagens à Europa Ocidental, em 1989/90, conhecendo melhor a região, seus líderes democráticos e economistas soviéticos interessados na transformação dos países próximos (como a Polônia). – Interessados em uma reforma de mercado.
164 “A Perestroika de Gorbatchov estava em andamento, mas a economia não estava respondendo, afora cair cada vez mais no mercado negro, na escassez e na inflação crescentes”. [...] “Os problemas econômicos, refletiam o colapso do sistema socialista, tal como ocorrera na Europa Ocidental. Mas havia características que exacerbavam a crise soviética”: a União Soviética dependia das exportações de óleo e gás para obter moeda estrangeira e do uso desses materiais na indústria pesada e uso intensivo de energia para manter a economia industrial.
165 Em 1980 o país foi atingido: o preço mundial de petróleo despencou, diminuindo os ganhos de sua exportação e a produção soviética do petróleo atingiu um pico e depois caiu, devido ao esgotamento de campos petrolíferos e à falta de investimentos em novos, mais difíceis de atingir. “A URSS começou a tomar empréstimos no exterior para cobrir a queda dos ganhos com exportação e tentar modernizar a economia” – foi inútil: velho sistema não podia ser salvo.
166 Década de 1980: economia soviética ficou presa na “tesoura” da queda da receita da exportação de petróleo e da elevação da dívida externa. – vide figura 1.
166 Ano de 1991: credores – na maioria bancos alemães – pararam de dar empréstimos e exigiram o pagamento da dívida, abrindo caminho ao colapso econômico.
166 Grigori Iavlinski, assessor econômico de Gorbatchov, propôs o Plano dos Quatrocentos Dias: tentativa de reforma acelerada de mercado na União Soviética. “... idéia era que Gorbatchov tentasse acelerar as reformas econômicas e a democratização com o suporte da ajuda financeira dos Estados Unidos e Europa. As reformas econômicas seguiram as da Polônia, adaptadas às realidades soviéticas, e a democratização incluiria eleições livres nas repúblicas, ainda consideradas cada vez mais autônomas dentro da união”.
167 Em 1990, Gorbatchov foi à reunião do G7 em busca de ajuda financeira, mas não conseguiu apoio e, a crise soviética estava cada vez mais profunda. E em 1991, houve a tentativa de golpe contra à Gorbatchov, que fracassou – “a Rússia seria em breve um Estado independente, junto com outros de uma União Soviética já moribunda” – e no mesmo ano Ieltsin criou uma equipe econômica para montar um plano de reformas para a Rússia. [...] O país ainda era uma república da União Soviética, mas parecia que logo ganharia a independência, e Ieltsin se tornaria presidente de um Estado soberano. [...] Timing e complexidade dessa transformação eram assustadores.”
167 “Com a experiência do caso polonês e o conhecimento dos eventos econômicos em toda a Europa Ocidental, começamos uma discussão com a nova equipe sobre as reformas russas”.
167 Rússia, um Mundo à Parte
167 A Rússia se diferenciava de outros países, como a Polônia, por tais aspectos: escalas dos problemas; amplitude da camisa-de-força socialista na sociedade; anos de autocracia; fusos horários; população demasiada; diferenças geográficas, culturais, religiosas e lingüísticas; desconhecimento de uma economia de mercado. “Ninguém na liderança russa tinha experiência internacional”. – “A Rússia era realmente um mundo à parte”.
168 “O país poderia seguir Ieltsin para o tornar uma potência ‘normal’, abraçando a democracia e adotando uma economia de mercado”. “Normalidade”: quem na Rússia sabia o que significava? “Ninguém jamais vivera dentro na normalidade”, pois “haviam vivido sob o controle de Stálin, 75 anos de planejamento central, anos de autocracia e servidão e a população era, na sua maioria, composta por camponeses sem liberdade. [...] A normalidade não seria fácil de alcançar”.
168 “Essa transformação seria a mais difícil da história moderna”, pois havia uma distância entre onde a Rússia estava e aonde precisaria chegar, ou seja, obter a paz interna, a estabilidade e o desenvolvimento econômico.
168 As instituições econômicas e políticas precisariam de uma ratificação, pois a estrutura econômica – indústrias, pessoas, recursos naturais e tecnologia – haviam chegado a um “beco sem saída”. Pessoas estavam em lugares errados, vivendo em cidade “secretas” criadas com propósitos militares, trabalhando em indústrias pesadas dependentes das reservas de gás e petróleo, que eram limitadas. “Os reservatórios se exauriam e não se investiam em novos...”.
168 “Nenhuma política econômica pode ser suficientemente poderosa para realocar pessoas, fábricas e recursos em dias, semanas ou anos. As transformações de que a Rússia precisava seria complexa e controversa. A expressão ‘terapia de choque” estava errada e não haveria um tranco único para acabar com as atribulações do país”.
169 Choques: retirada do controle de preços, conversibilidade da moeda e liberalização do mercado – poderiam ajudar, mas não resolveriam os problemas da desordem estrutural subjacente, das falhas de suprimento de energia e outras crises interligadas.
169 “... medidas reformistas ajudariam a levar o país à imensa transformação social e econômica. Contudo, a Rússia precisaria de uma considerável ajuda internacional, inclusive os componentes de reserva financeira para a estabilização do rublo e do cancelamento de parte da dívida...”.
169 “Poderia funcionar? Eu achava que sim”. – As reformas ofereciam a melhor chance para a paz, a democracia e a prosperidade econômica. Conselho do autor à Rússia: avançar com rapidez nas reformas fundamentais: estabilização e liberalização do mercado, avançar na privatização e obter ajuda financeira externa. “Busquem a normalidade, em vez da singularidade”.
169 Grupo externo de assessores foi criado e um documento sobre estratégia foi apresentado à Ieltsin em 1991, este afirmou: “... a União Soviética não existe mais”, [...] “a Rússia logo seria independente e as reformas econômicas teriam início dentro de semanas”.
170 Em 1992 a Rússia lançou as reformas e Gaidar tornou-se o primeiro-ministro provisório, sofrendo ataques de imediato, até sua demissão. “Seria assim durante anos, com os reformistas ma conseguindo se manter nos cargos e, ainda mais no poder. A maioria das reformas implementadas não passou de pálida sombra que fora planejado”.
170 Tentativas de Obter Ajuda Externa
170 “Ajuda externa à Rússia foi tema dominante” – solicitou-se um programa de ajuda de US$ 15 milhões de dólares por ano para permitir que estabilizasse a moeda, introduzisse uma rede de previdência social para pensionistas e grupos vulneráveis e ajudasse a reestruturar a indústria, mas houve recuso em Washington.
171 Defendiam-se três ações imediatas de apoio do Ocidente à transformação da Rússia: fundo de estabilização para o rublo, como houvera à Polônia; suspensão imediata dos pagamentos da dívida, seguida por um cancelamento das dívidas russas; novo programa de ajuda para a transformação, como foco nos setores sociais mais vulneráveis da economia russa.
171 Críticos acusaram o autor de “mascatear uma forma cruel de ideologia do mercado livre na Rússia”, mas tentou-se sem sucesso, mobilizar o auxílio internacional para ajudar a amenizar as inevitáveis dificuldades que acompanharam a tentativa russa se superar o legado soviético.
171 “O FMI torceu o nariz, em parte por motivos técnicos errados – que manter u rublo soviético em circulação na antiga União Soviética, em vez de substituí-lo por moedas nacionais – e, também devido à resistência dos Estados Unidos e de outros líderes do G7”.
171 Em 1992, o “conceito de fundo de estabilização foi aprovado pelo G7, mas nunca posto em funcionamento. Quando houve a aceitação pelo grupo, Gaidar já perdera ímpeto, o Banco Central estava nas mãos de opositores das reformas e, na prática, o G7 parecia contente em deixar a proposta na geladeira. No meio da hiperinflação e do tumulto político, o timing é tudo, e o timing do fundo de estabilização foi menosprezado pelo Ocidente”.
172 Outro tropeço a enfrentar: “No sistema soviético, o rublo fora usado em toda a economia e com a União Soviética dividida em Estados, seria necessário haver outras moedas – senão cada um emitiria rublos, com seu banco central agora independente. A alternativa às moedas separadas seria um único rublo sustentado por um único banco central supranacional, porém nas condições políticas de 1992, tal nível de cooperação estava fora de questão”.
172 Conversão do rublo soviético em moedas nacionais ganha objeções pelo FMI e “havia grande ceticismo entre as autoridades russas em relação à possibilidade de tornar logo o rublo conversível”. – proposta foi retardada tempo suficiente para se tornar improvável.
173 Ainda, “supus que os Estados Unidos torceriam pelo sucesso da Rússia [...], mas duvido que isso tenha acontecido. [...] A Rússia não estava destinada a se tornar membro da União Européia e certamente não seria candidata à OTAN. Ainda era um país com mais de 20 mil armas nucleares e, [...] o apoio à sua recuperação rápida era considerado contrário aos interesses americanos”.
174 Tratamento pelo G7 da dívida soviética da Rússia foi um fracasso similar – autor defendia uma suspensão imediata e unilateral do serviço da dívida enquanto se decidia um acordo de longo prazo entre o país e seus credores. Porém, o G7 e outros representantes notificaram que o envio de “alimentos de emergência” poderia ser suspenso se a Rússia tentasse parar de pagar o serviço de sua dívida externa. E ainda, o G7 negociou uma cláusula de “obrigação conjunta e particular” com os Estados sucessores, na qual todos prometiam pagar, se necessário, toda a dívida da era soviética.
174 Tal insistência do G7 no pagamento da dívida gerou problemas políticos e financeiros e, garantiu que a Rússia ficasse sem reservas em moeda estrangeira no início de 1992. Nela, não havia proteção legal contra os credores, nenhuma suspensão legal do serviço da dívida e nenhuma injeção rápida de capital novo, “tanto a Rússia como seus credores sofreram as conseqüências”.
174 Concessão de ajuda: o Ocidente anunciou em 1992 um pacote de US$ 24 bilhões à Rússia. Foram anúncios enganadores que vieram dos países ricos em relação aos pobres. [...] Não havia dinheiro vivo para a Rússia, parte dele compreendia empréstimos de curto prazo, a juros de mercado, para permitir que o país comprasse mercadorias que não queria, de fornecedores americanos e europeus que tinham influência política em seus governos”.
175 O ano de 1992 foi ‘terrível’ para as reformas e reformistas da Rússia: “depois da liberalização dos preços, as outras reformas nunca se efetivaram ou o fizeram de forma truncada. Os controles de preços continuaram em vigor, o comércio internacional foi aberto apenas parcialmente, a moeda era parcialmente conversível, não se conseguiu a estabilização monetária e a inflação continuou”.
175 Foram conseqüências de pressões políticas que impediram uma política monetária decisiva, resultado das políticas “desastrosas” do novo presidente do Banco Central, Viktor Gerashchenko e conseqüência do FMI não ter promovido a moeda nacional russa: “confiança dos países soberanos no rublo da era soviética foi ruinosa, uma vez que os custos inflacionários se difundiram amplamente, cada país sentiu-se incentivado a emitir créditos, a ‘imprimir dinheiro’”.
175 Com a inflação de 1992, Gaidar perdeu vantagem política e Ieltsin não o “salvou” quando adversários da reforma pediram sua demissão, dada no final do mesmo ano e substituída por Viktor Tchernomirdyn – que não tinha “simpatia” as reformas.
176 Ano de 1993 – “foi um ano de luta para evitar que a hiperinflação decolasse. Para mim, foi o ano de tentar persuadir o governo dos Estados Unidos. [...] A transição de Bush para Clinton ficou claro que não haveria um grande aumento da ajuda à Rússia”.
176 Equipe de Clinton se decidira contra programa de larga escala para Rússia e que confiaria nos esforços do FMI. “Clinton elevou os níveis de apoio à Rússia e deu a Ieltsin suporte político”, amas as notícias sobre a ajuda foram exageradas, pois pouco auxílio veio em forma útil para sustentar os orçamentos, boa parte veio na forma de créditos comerciais e o FMI deu continuidade ao conjunto de políticas inadequadas à Rússia, restringindo qualquer ajuda que chegasse.
176 “Anos de Clinton” – período de queda da ajuda externa. Estes faturaram os dividendos da paz, com a redução dos gastos militares, sem investir em ajuda às regiões pobres e em crise no mundo e, no final do governo, assumiu a causa do perdão da dívida para os países mais pobres.
177 Ano de 1993 – “ano de esperanças frustradas” e em 1994, autor se desliga – “tive pouco sucesso em levar adiante iniciativas em que acreditava, em particular na idéia de usar o apoio financeiro externo para dar suporte às reformas russas”.
177 Ausência de ajuda do Ocidente teve custos altos, os russos estavam otimistas e haviam se tornado “cínicos” e “desmoralizados” nos anos 90. “A democracia teve chance no início desse período, com novas instituições de livre manifestação e meios de comunicação independentes. No final, o otimismo desaparecera e os russos estavam em busca de um líder forte com poder centralizado. Quando não conseguiram ajuda que precisaram, os reformistas foram substituídos por apparatchiks cinzentos e caçadores de fortunas corruptos”.
177 Anos de 1995 e 1996 – privatização no país se tornou atividade desavergonhada e criminosa. Os oligarcas da Rússia conseguiram bilhões de dólares de riquezas naturais, principalmente nas indústrias estatais de petróleo e gás, transformados para mãos privadas. “Criam-se bilionários [...] e os orgulhosos donos da indústria...”.
177 “Falso processo de privatização foi anunciado, dentro de um programa de ações-por-empréstimos, em que pessoas com acesso privilegiado obteriam participação nas empresas em troca de empréstimo ao governo”, tentou-se avisar o governo americano, o FMI, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e outros do G7”. Recursos do Estado seriam saqueados e o Tesouro russo sofreria, mas “o Ocidente deixou isso acontecer sem emitir um pio”.
178 Ieltsin daria os ativos do Estado e os “camaradas – os novos oligarcas – ajudariam a financiar sua reeleição em 1996”; dólares saíram dos cofres do governo e voltaram para a sua campanha.
178 Lições da Rússia
178 Autor afirma ser cedo para julgar as perspectivas da democracia e da economia de mercado russos. “Não se sabe se a Rússia se tornará um país ‘normal’, com democracia e economia de mercado em funcionamento”.
179 Porém, “oportunidades foram desperdiçadas. [...] Poderia ter se estabilizada com facilidade se tivesse contado com o fundo de estabilização, uma suspensão ou cancelamento parcial das dívidas e um programa de ajuda. Os reformistas poderiam manter seu lugar no poder. A corrupção teria sido menor e os oligarcas talvez jamais se tornassem nomes familiares. E com a receita do petróleo e gás entrando no Tesouro russo, em vez de bolsos privados, a situação dos pensionistas, desempregados e outros que dependem das receitas públicas poderia ter sido melhorada e o país teria feito os investimentos públicos necessários para crescer economicamente”.
179 E, “muita coisa também deu certo. [...] A Rússia permaneceu em paz e em cooperação com o resto do mundo. [...] Tornou-se uma economia de mercado, embora fortemente enviesada no sentido de produtos primários. A estabilização foi conseguida no final da década de 1990, depois da inflação alta seguidos pela crise do balanço de pagamentos de 1998. [...] A economia cresceu baseada nos altos preços internacionais da energia e da moeda desvalorizada que promoveu as exportações”.
179 Grande questão: Rússia se tornará uma democracia, superando a história de anos de autoritarismo?
179 Governo de Vladímir Pútin: centralizou o poder, subjugou os meios de comunicação e amordaçou a oposição independente. [...] “Como sempre aconteceu na história russa, muita coisa continua sombria”. Seus ataques aos oligarcas podem ser considerados uma contestação apropriada à riqueza ilícita ou como ataque ao tipo de riqueza independente que poderia desafiar a supremacia do Estado”. É um pouco das duas coisas. O tempo dirá.
180 A Rússia traz marcas de condições físicas e acrescenta “peça ao quebra-cabeça” da geografia econômica global, com características dominantes: possui grande território; população vive no interior, longe de portos, rios navegáveis e do comércio internacional; teve relações econômicas fracas com o resto do mundo; é de alta latitude, marcado por estações de cultivo curtas e clima rigoroso; densidade populacional é baixa devido a produção de alimentos também baixa; parte da população viveu como agricultor em aldeias esparsamente habitadas, produzindo alimentos com safras pequenas; cidades eram poucas e distantes entre si; divisão do trabalho que é dependente da vida urbana e do comércio internacional jamais foi traço dominante da vida social.
180 Com relação à obtenção de ajuda externa, os Estados Unidos via a Rússia como uma ameaça constante, em vez de uma parceira futura de comércio e política externa.
180 Autor considerava tal ajuda uma necessidade para escorar as reformas: “Sem ajuda adequada, o consenso político foi prejudicado e o processo reformista ficou comprometido e aumentou o risco de fracasso”.
181 “... quanto às recomendações relacionadas com equilíbrio orçamentário, conversibilidade monetária, comércio internacional e coisas semelhantes, essas mudanças faziam sentido com ou sem ajuda externa”.
181 E conclui: “coisas ruins que aconteceram – como o roubo em massa dos ativos estatais sob a rubrica de privatização – era exatamente oposta ao conselho que dei”.
181 E compara à China, que teve uma saída menos tumultuada de sua economia socialista e uma ascensão da economia, resultadas por suas geografias, geopolíticas e demografia e não por diferentes escolhas políticas.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Atividades de aproximação: África

No início do ano letivo de 2009, antes de iniciar as aulas propriamente ditas, foi proposto aos acadêmicos que elaborassem sua própria visão de África, o primeiro eixo temático da disciplina, conforme o plano de ensino apresentado.

A turma foi dividida em pequenos grupos, de, no máximo, quatro pessoas. Cada grupo elaborou, em papel sulfite previamente entregue, os conceitos/imagens/outros que seus componentes atribuíam à África naquele momento. Além do papel, também foram distriuídas revistas para recorte e material pedagógico, para que os grupos elaborassem cada qual um painel, o qual poderia ter o formato decidido pelos acadêmicos.

Após os debates internos e a elaboração do material proposto, cada grupo apresentou o painel elaborado, explicando o formato e o conteúdo deste.

Os objetivos foram discutir o conhecimento prévio dos acadêmicos e buscar algumas questões para debate na disciplina, bem como apresentar uma atividade possível de ser elaborada em turmas do ensino fundamental e médio, de forma prática. Assim, além da discussão do formato e conteúdo, também a aplicabilidade do método foi avaliada.

Como resultado, foram apresentados painéis variados, com alguns pontos em comum, na lógica dominação colonial-miséria-exploração, mas também os grupos trouxeram elementos de diversidade cultural, destacando o Egito, a riqueza natural (biodiversidade), a pré-história e outros elementos.

Com relação ao método, os acadêmicos destacaram a aplicabilidade em vários momentos, e ainda sugeriram que poderia se fazer um texto sobre as produções, bem como a possibilidade de retomar os conceitos e representações utilizados ao longo do desenvolvimento do eixo temático.

Buscar atividades que integrem as questões teóricas com as práticas acadêmicas é um dos objetivos da disciplina, e o método utilizado apresentou bons resultados neste sentido, conforme avaliado pelo grupo.

sábado, 26 de setembro de 2009

África – estratégias de divisão (última parte)

Conflitos atuais – “marcas do que ficou”

• Os conflitos atuais na África : mescla de fatores. Algumas predominâncias:
1. Componente étnico (Ruanda, Mali, Somália, Senegal),
2. De fundo religioso (Argélia)
3. Questão política (Angola, Uganda).
4. Litígios territoriais, muito frequentes na África Ocidental.

No meio dos conflitos que atormentam a África neste final de século estão vários povos e nações que buscam sua autonomia e sua autodeterminação; tais conflitos envolvem, inclusive, umaa etnia opressora.
Algumas dessas guerras são extremamente cruéis (vide Ruanda e Burundi), opondo as etnias tutsi e hutu.
Em 1994, a guerra em Ruanda já tinha provocado 4 milhões de refugiados, metade da população do país, e milhões de mortos. Os hutus são maioria da população, mas são os tutsis que dominam a vida política e econômica destes países desde que os antigos colonialistas belgas promoveram representantes deste etnia a postos de mando administrativo.
Filme recomendado: Hotel Ruanda (permanências dos conflitos)



Fonte das imagens:
http://www.tamandare.g12.br/Aulafrica/localizacao%20conflitos.htm

Fome, Peste, Guerra e Morte: os 4 cavaleiros do apocalipse na África

Legenda (livre tradução pela autora; números no mapa inseridos para facilitar a visualização)

1. Desnutrição crônica (menos de 2.300 calorias diárias por habitante, em 1995-97).

2. Graves problemas alimentares

3. Principais regiões de fome extrema nos últimos 30 anos

4. Principais conflitos nos anos 1990

5. Principais regiões de refugiados ou exilados dos anos 1990

Fonte:
http://www.tamandare.g12.br/Aulafrica/1_fome.htm

Tentativas democráticas, segundo o Le monde.
Legenda
1. Verde-claro: processos democráticos mais estáveis
2. Laranja escuro: democracias de fachada ou regimes semi-autoritários
3. Verde-escuro: processos democráticos interrompidos por um golpe de Estado
4. Marrom-avermelhado: impossibilidade de processo democrático (conflitos territoriasi, geurras civis. Estados instáveis, que não controlam parte alguma do território).


Desde as Conferências nacionais nos anos 1990, tentativas de estabelecer a democracia no Continente Africano não se consolidam, seja pelas eleições – muitas vezes comprometidas – seja pela decadência do poder estatal. A Declaração feita pela Organização da Unidade Africana (OUA) em 1999 condena o militarismo, que tem falhado na prevenção de conflitos na Nigéria, Serra Leoa, Camarões e Costa do Marfim (livre tradução por Adriane Schroeder).
Fonte:
Le monde http://MondeDiplo.com/maps/africademomdv51

* Obs. Aceito sugestões de traduções mais aproximadas.