sábado, 19 de dezembro de 2009

Análise da carta à rainha Vitória

O texto abaixo é uma amostra das análises elaboradas pelos acadêmicos da carta publicada (ver post anterior). Não há interferências no texto.
As análises foram debatidas em sala, a partir de referências entregues aos acadêmicos previamente.

Acadêmica: Fernanda Mara Borba.
Análise de Documento Histórico – Carta à Rainha Vitória, 1839.

1. Assinalar o posicionamento da China mediante as investias imperialistas.
2. Estabelecer a forma de imperialismo praticada na região.
3. Enumerar as acusações feitas aos comerciantes ingleses, inclusive quanto à produção do ópio.
4. Pesquisar: como a Inglaterra recebeu a carta?

“Mas, durante o intercâmbio comercial que já existe há tanto tempo, entre os numerosos comerciantes estrangeiros que recorrem para cá, há o trigo e o joio, bons e maus, e estes últimos são alguns que, por meio da introdução de ópio, ardilosamente têm seduzido nossos súditos chineses, o qual fez todas as províncias do país transbordarem com o veneno. Estes, então, querem apenas à vantagem, eles não se preocupam com os danos causados aos outros!”. (LIN, p. 2, 1839).
“Todos os nativos dessa terra, que vende ópio, como também os que fumam, são semelhantemente julgados à morte. Pudéssemos nos voltar e assumir os crimes dos estrangeiros, que, ao vendê-lo por muitos anos, tendo induzido calamidade terrível e nos roubado de enorme riqueza, e [então] puni-los com a mesma severidade, as nossas leis não poderiam deixar de condená-los à absoluta aniquilação! [...] Mas, como se irá perdoar aquele que mais conscientemente viola as leis? Ele ou eles devem ser igualmente condenados às penas da nova lei”. (LIN, p. 2, 1839)
1) “Achamos que vosso país está distante de nós cerca de sessenta ou setenta mil milhas, que vossos navios vem para cá a lutar um com outro pelo nosso comércio, e pela simples razão de seu forte desejo de obter lucro. [...] 2) Por que princípio da razão, então, deve enviar esses estrangeiros em troca de uma droga venenosa, o que implica na destruição dos milhares nativos da China? Não é nossa intenção afirmar que os estrangeiros portam tais intenções destrutivas em seu coração, mas nós podemos, contudo, afirmar positivamente que, a partir de sua sede excessiva, após obter lucro, eles em nada se preocupam sobre os danos que nos infligem! [...] 3) Ouvimos dizer que no seu próprio país, o ópio é proibido com o máximo rigor e severidade – esta é uma forte prova que Vós sabeis muito bem como é prejudicial para a humanidade. Desde então Vós, que não permitis que ele venha para outro país e, acima de todos os outros, muito menos para a China! [...] 4) Vossa honrosa nação tira o produto da nossa terra, e não somente. Vós, assim, podeis obter alimento e suporte para vós mesmos, mas por outro lado, por voltar a vender esses produtos para outro países, Vós colheis um lucro triplo. Agora, se Vós deixásseis d vender somente o ópio, este lucro triplo ainda será garantido a Vós. [...] 5) É por esta razão nós agora endereçamos este documento público, a fim de que Vós possais saber claramente como severas e graves são as leis da dinastia da Terra Central [China], e certamente Vós fareis com que elas não sejam violadas precipitadamente!”. (LIN, p. 2-3, 1839).

O mandarim e a rainha
"Nós removemos montanhas e fizemos dos mares suaves avenidas, ninguém pode no resistir. Guerreamos a rude natureza; e com nossas poderosas máquinas, saímos sempre vitorioso e carregados de despojos”.T.Carlyle – "Signs of the Times", in Edinburgh Review, 1829.

Nem bem completara o segundo ano do seu reinado, a rainha Vitória, em 1839, recebeu uma extraordinária carta vinda do outro lado do mundo, da China. A missiva era de Lin Zexu, o comissário imperial de Cantão, encarregado de combater o contrabando do ópio nas costas chinesas. Apelou ele a majestade britânica, em termos educadíssimos, como somente os mandarins conseguiam se expressar, para que ela fizesse algum tipo de intervenção junto aos seus súditos que comerciavam com o Oriente no sentido de coibir o nefando tráfico de drogas feito pelos mercadores ingleses. Tráfico que ampliava cada vez mais o vício entre os súditos do imperador.
Queria evitar que a China fosse tomada pela "fumaça bárbara", efeito do ópio que eles traziam em seus barcos das suas plantações na Índia para vender nos portos do Império Celestial. Estranhava o comissário o reino britânico proibir o consumo daquela droga no seu território, mas não se mover para impedir que aventureiros navegando sob sua bandeira o fizessem livremente em outras bandas.
Em resposta, a rainha Vitória argumentou que bem pouco podia proceder sobre aquele assunto visto que seu reino advogava a favor do livre comércio. Além disso, um tanto de ópio era consumido sim pelos ingleses na forma de láudano e que seus efeitos não era assim tão devastadores.
A Guerra do Ópio
Não só isto, naquele mesmo ano, em novembro de 1839, o Parlamento da Grã-Bretanha aprovou - a pretexto de buscar reparar os prejuízos dos traficantes perseguidos pela política do comissário - uma declaração de guerra contra China.
Travou-se então, com rápida derrota dos orientais, uma das mais infames guerras da historia moderna: a Guerra do Ópio (1839-1841). Os chineses, capitulando, não somente foram obrigados a aceitar a importação do ópio como suspender a legislação que prejudicasse o seu consumo. Durante quase um século inalar o "veneno infiltrado", como disse Lin Zexu, passou a ser uma espécie de segunda natureza do povo chinês, quase que inteiramente dopado pelo colonialismo.
Nada disso, todavia, maculou a imagem da boa rainha Vitória junto ao seu povo, admirada no transcorrer dos seus 64 anos de reinado pelo alto padrão moral que exigia da corte, a ponto de vitorianismo confundir-se, ao largo do século 19, com moralismo e puritanismo.


SCHILLING, Voltaire Schilling. Inglaterra, a pérfida Albion. Disponível em: http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/2004/10/25/000.htm. Acesso em: 20 set. 2009.

Um comentário:

Nanael Soubaim disse...

A rainha em parte tinha razão; drogas hoje proibidas eram usadas para fins terapêuticos, e ainda o são em determinadas comunidades celtas da Europa, e a Inglaterra é uma monarquia parlamentarista, a rainha não tem o poder de um imperador. Entretanto, ela concedeu a resposta sem dúvida orientada por seus conselheiros, entre os quais indubidavelmente haviam comerciantes (directos ou não) de ópio. Se ela poderia ter feito algo de consistente, dificilmente poderemos saber, já que nem os actos da actual rainha são de todo revelados, quer por protocolo, quer por questões de Estado.