domingo, 15 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (II)

As Guerras do Ópio

•Apesar da carta de Lin e dos avisos do governo chinês, o comércio prosseguiu, levando as autoridades chinesas a promover, em 1839, a queima de 20 mil caixas da substância na cidade de Cantão.
•Através desta reação, a China havia oferecido a Inglaterra tudo o que ela mais precisava para subjugar o território chinês ao seu mando, ou seja: um pretexto para a pequena ilha declarar guerra ao território continental da China.
•Os britânicos, em retaliação, declararam guerra à China: era o início da Primeira Guerra do Ópio.
Gravura:
Depósitos de ópio da Companhia das Índias Orientais na Índia:
uso de uma colônia para enfraquecer a China.
http://pt.wikipedia.org/wiki /


O tratante tratado

•Houve duas Guerras do Ópio, uma entre1839 e 1842 e a outra entre 1856 e 1860. Ao final, por meio de sua superioridade bélica, a Inglaterra aniquilou o poderio chinês, forçando o imperador manchu à rendição. Conseqüentemente, o governo imperial da China foi constrangido a assinar o Tratado de Nanquim, que colocou fim definitivo no embate, em 1842.
•O Tratado de Nanquim - principais cláusulas:
1.a abertura de cinco portos chineses ao livre comércio, em caráter permanente: Xangai, Ningpó, Fu-tcheu, Amói e Cantão;
2.a imunidade e os privilégios especiais aos súditos britânicos
3.regular as tarifas de comércio
4. transferir a cidade Hong Kong à Grã-Bretanha pelo tempo de 100 anos.
Gravura: Ataque inglês à China. http://www.iped.com.br/sie/uploads/10833.jpg

O dragão abatido

• Para a Inglaterra, este tratado assumiu o primeiro passo para suas grandes pretensões de transformar a população chinesa em um grande mercado consumidor, no qual os milhares produtos industrializados seriam comercializados No entanto, o mercado existente na China era para o ópio e não para os outros produtos britânicos.
• Para a China, o Tratado de Nanquim representou a abertura de precedentes para outras nações de caráter imperialista e perda de parte de sua soberania.
Gravura: vitória do Ocidente sobre o dragão Chinês: cartaz celebrando a vitória inglesa. http://img.terra.com.br/i/2008/08/13/835983-8688-cp.jpg
Observar as semelhanças com a iconografia de São Jorge, padroeiro da Inlgaterra.
A um tratado seguem outros: um mal nunca vem sozinho

•A perda de interesse nos cinco portos abertos anteriormente se tornou evidente, a miragem do mercado inesgotável continuava, logo, novos pretextos foram arrumados para se estabelecer mais duas Guerras do Ópio, travadas em 1856 e 1858, com apoio da França aos britânicos.
•Por causa destes dois combates, novos tratados foram assinados, evidenciando ainda mais a perda da soberania chinesa sobre seu território. Nestes tratados foi estabelecida a abertura de mais de 11 portos; jurisdição autônoma para os processos estrangeiros; liberdade de ação para as missões cristãs; direito de manutenção de representantes permanentes nas alfândegas chinesas, entre uma série de outros direitos que feriam o governo chinês.
Gravura:
Assinatura do Tratado de Naquim, o primeiro de uma série.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Nanjingtreaty.jpg/400px-Nanjingtreaty.jpg

Balanço geral dos tratados(1842 – 1901): o dragão agonizante

Gravura: Os “frutos” das guerras do ópio.
Detalhe: no fruto da papoula, a seiva.
•1842 - Tratado de Nanquim: a China concede à Inglaterra, em razão da sua derrota na 1ª Guerra do Ópio, a abertura de cinco portos, a entrega a ilha de Hong Kong em caráter perpétuo e uma indenização aos traficantes expropriados por Lin Zexu (o diplomata que enviou a carta à Rainha vitória), no valor de 6 milhões de liang de prata, mais 12 milhões aos ingleses como despesa de guerra.
•1843 - Tratado complementar de Hu-men: a Inglaterra recebe o tratamento de nação mais favorecida, fazendo com que suas mercadorias paguem apenas 5% de imposto ad valorem
•1844 - Tratado de Wangxia: assinado com os E.U.A. Todos os privilégios concedidos aos ingleses são estendidos aos americanos , inclusive o direito de enviar barcos de guerra aos portos abertos ao comércio para proteger os interesses dos negociantes americanos. 1844 - Tratado de Huangpu: assinado com a França. Confirma os privilégios concedidos nos tratados anteriores, mais o fim da proibição de difundir o catolicismo nos portos abertos ao comércio.
•1858 - Tratado de Tianjin: assinado com a Grã-Bretanha, Rússia, E.U.A.e França, como resultado da derrota chinesa na 2ª Guerra do Ópio (1856-1860). Estabelecimento de delegações estrangeiras em Pequim. Abertura de mais 10 portos chineses ao comércio internacional ( Niuzhuang, Dengzhou, Tainan, Danshui, Chaozhou, Qiongzhou, Hankou, Jiujiang, Nanjing e Zhenjiang). Livre trânsito dos estrangeiros, particularmente dos missionários cristãos, pelo interior do país e livre navegação dos barcos de guerra. Indenização de guerra a ser paga à Inglaterra (4 milhões de onças de prata) e à França (2 milhões). Os tratados sino-britânico e o sino-francês, em 1860, aumentaram o valor para 8 milhões de onças de prata. Os ingleses ampliaram seu domínio na região de Hong Kong ao se apropriarem da península de Kaulun. Legalização definitiva do comércio de ópio administração alfandegária conjunta de ingleses e chineses. Em 1860, outorgou-se a sir Robert Hart o cargo de Inspetor Geral das Aduanas, mantida até 1908.
•1858 - Tratado de Aihui, assinado com a Rússia, que, complementado com uma série de outros tratados , fizeram a China ceder 1.500.000 km2 do seu território. Em 1881, pelo Tratado de Yili, mais 90 mil km2 foram entregues aos russos., juntamente com os portos de Vladivostok e Port Arthur.
•1895 - Tratado de Shimonoseki, assinado com o Japão, como resultado da derrota chinesa na guerra sino-japonesa de 1894-5. A China cedeu a península de Liaodong ( mais tarde arrendada à Rússia por 25 anos), a ilha de Taiwan ( Formosa) e mais 235 pequenas outras ilhas, o arquipélago de Penehu ( ilhas dos Pescadores) e uma indenização de 200 milhões de liang de prata. Abriu também as cidades de Shanshi, Chongqing. Suzhou, Hangzhou e aceitou a tutela definitiva do Japão sobre a Coréia.
•1897 - Arrendamento da baía de Jiazhou por 99 anos à Alemanha, bem como a permissão da construção de uma estrada de ferro ligando Jiaozhou a Jinan, com direitos de exploração das minas encontradas a 15 km de cada lado dela. Depois do Tratado de Versalhes, de 1919, a China reivindicou o controle dessa região, mas as potências coloniais entregaram-na ao Japão, o que gerou o Movimento de Maio de 1919, início da rebelião estudantil- nacionalista chinesa contra o domínio colonial
•1899 - Política de “portas abertas” proposta pelos EUA, pela qual todo o país que tivesse obtido concessões da China as repartiria com os outros, com “igualdade de oportunidades” e “divisão conjunta dos benefícios ”. Anuíram: Inglaterra, Rússia, Alemanha. Japão, Itália e França .
•1901 - Protocolo dos Boxers ( Movimento Yiethuan), assinado pelo governo Qing com as 8 potências colonialistas, devido à sangrenta intervenção militar destas em Pequim para sufocar a rebelião nacionalista dos boxers (Yiethuan), que cercara as legações estrangeiras na capital imperial.Cláusulas: indenização de 450 milhões de taéis (U$ 333 milhões), a ser paga pela China durante os 39 anos seguintes, até 1940, quando atingiria quase 1 bilhão de taéis. O governo imperial ficou encarregado de executar os principais líderes do levante.
•Os chineses não poderiam mais entrar nos bairros das delegações estrangeiras, as quais poderiam, porém, cercar suas tropas; também foram obrigados a desmontar a fortaleza de Dagu. Na prática, Pequim poderia ser ocupada quase imediatamente por qualquer guarnição estrangeira acampada nos seus arredores.

O dragão ferido
Gravura:
O dragão: sagrado na China, representa o mal no Ocidente, não por mera coincidência.

•Estes tratados produziram na um grande impacto negativo sobre sua produção artesanal, causando desemprego e fome; uma maior repressão à população camponesa; monopólio da educação pelas missões francesas; e, o mais grave: a perda praticamente total da soberania do governo chinês sobre seus territórios.
•Karl Marx assinala, sobre a questão: “a primeira condição de preservação da Velha China era seu total isolamento. Uma vez que a Inglaterra deu fim brutal a esse isolamento, a decomposição sobrevirá com a mesma inexorabilidade de uma múmia retirada do hermético sarcófago em que estava preservada e exposta ao ar livre” ( MARX, Karl. Revolution in China and in Europa in http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/china_3.htm)

2 comentários:

Nanael Soubaim disse...

E em sua reação legítima, mas de modo irracional, a China se libertou dos opressores externos para se entregar aos internos. Continua sem um exército (o actual serve ao PC, não à China) e dependente do mercado externo, tendo viciado este de seu interno.

A velha China ainda existe, mas camuflada em andrajos escarlates. O dragão ainda não se renovou.

Adriane Schroeder disse...

Verdade. Trocar velhso senhores por novos não é ser livre...