segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Carta à Rainha Vitória (Guerras do ópio)

Segue uma tradução prévia da Carta à Rainha Vitória enviada pelo Alto Comissário Lin (ver post anterior). Aceito sugestões a qualquer tempo para aperfeiçoá-la.

Sobre esta, foi feita uma análise pelos acadêmicos, das quais uma amostra será publicada em seguida.

Comissário Lin: Carta à Rainha Vitória, 1839

(*) Trechos entre colchetes indicam omissões ou inserção de trechos para facilitar a compreensão do documento.

Lin, alto comissário imperial, [...] declara conjuntamente resolver [tornar] esta expedição pública para a rainha da Inglaterra com a finalidade de dar-lhe informações claras e distintas sobre o estado de coisas [...].

É nosso único imperador, grande e poderoso, que tanto apóia e valoriza as terras do interior e aquelas de além dos mares, que olha para toda a humanidade com benevolência igual. [É ele, acreditando] que, se uma fonte de lucro existe em qualquer lugar, deve difundir-se por todo o mundo e que, se a árvore do mal tem raiz em qualquer lugar, deve arrancá-la para o benefício de todas as nações. É ele que, em uma palavra, tem implantado em seu peito o coração (por benevolência da própria natureza) o qual governa os céus e a terra!

A Vós, que sois a rainha de sua digna nação, que sentais em um trono ocupado através de sucessivas gerações de antecessores, os quais ali foram acondicionados com respeito e obediência. Olhando para os documentos públicos que acompanham a homenagem enviada (por seus antecessores), em várias ocasiões, encontramos o seguinte: "Todas as pessoas do meu país, chegando à Terra Central [nome oficial do império da China] para fins de comércio, têm de se sentir gratas ao Grande Imperador para a justiça mais perfeita, para o gentil tratamento", e outras palavras do mesmo feitio Sentimo-nos encantados, pois eis que os reis de vossa nação honrosa tão claramente têm compreendido os grandes princípios da decência, e eram tão profundamente gratos pela bondade celeste [do nosso imperado]:— portanto, era [justo] que nós, da dinastia celeste, nutríssemos estima por vosso povo de longe, e déssemos redobradas provas de nossa urbanidade e gentileza. É apenas a partir dessas circunstâncias, que a vosso país — tendo agora imensa vantagem decorrente da sua relação comercial conosco, que passamos já de duzentos anos —, o qual se tornou reino rico e próspero, que expressamos o que está a ser dito!

Mas, durante o intercâmbio comercial que já existe há tanto tempo, entre os numerosos comerciantes estrangeiros que recorrem para cá, há o trigo e o joio, bons e maus, e estes últimos são alguns que, por meio da introdução de ópio, ardilosamente têm seduzido nossos súditos chineses, o qual fez todas as províncias do país transbordarem com o veneno. Este é um princípio que à Divina Providência é repugnante, e que a humanidade conjuntamente olha com horror! Também o Grande Imperador tem ouvido tais fatos que, na verdade o fizeram tremer de indignação e, especialmente, me mandou, o comissário, a Cantão, que em conjunto com o vice-rei e Tenente-governador da província, os meios que possam ser tomadas para repressão [deste mal]!

Todos os nativos dessa terra, que vende ópio, como também todos os que fumam, são semelhantemente julgados à morte. Pudéssemos nós voltar e assumir os crimes dos estrangeiros, que, ao vendê-lo por muitos anos, tendo induzido calamidade terrível e nos roubado de enorme riqueza, e [então] puni-los com a mesma severidade, as nossas leis não poderiam deixar de condená-los à absoluta aniquilação! Assim, considerando que esses estrangeiros que ainda não alegaram se arrepender de seus crimes, e com um coração sincero implorar por misericórdia, eis que 20.283 caixas de ópio foram pilhados da loja de importados, através de Elliot, o superintendente do comércio de vosso país, solicitou que fossem entregue a nós, quando as mesmas foram totalmente destruídas. Deste fato que nós, o comissário imperial e demais funcionários, fizemos um memorial devidamente preparado para sua majestade; — considerando essas circunstâncias, temos recebido com alegria uma nova prova da bondade extraordinária do Grande Imperador, na medida em que, voluntariamente, ele se põe à frente [da questão], e entende que ainda pode ser considerado um tema adequado para misericórdia, e os seus crimes sejam graciosamente perdoados. Ele ou eles devem ser igualmente condenados às penas da nova lei.

Presumimos que Vós, a soberana de sua digna nação, a derramar vosso coração diante do altar da justiça eterna, não pode deixar de comandar todos os estrangeiros com o mais profundo respeito a reverenciar as nossas leis! Se nós tão somente colocarmos claramente diante de seus olhos o que é rentável e o que é destrutivo, então Vós ireis saber que os estatutos da dinastia celeste não podem deixar de ser obedecidos, com temor e tremor!

Achamos que vosso país está distante de nós cerca de sessenta ou setenta mil milhas, que vossos navios vêm para cá a lutar um com o outro pelo nosso comércio, e pela simples razão de seu forte desejo de obter lucro. Agora, fora a riqueza de nosso país, se tomarmos uma parte para outorgar a longínquos estrangeiros, segue-se, que a imensa riqueza que tais estrangeiros venham a acumular deveria esta pertencer a nosso próprio povo. Por que princípio da razão, então, deve enviar esses estrangeiros em troca de uma droga venenosa, o que implica na destruição dos milhares de nativos da China? Não é nossa intenção afirmar que os estrangeiros portam tais intenções destrutivas em seu coração, mas nós podemos, contudo, afirmar positivamente que, a partir de sua sede excessiva, após obter o lucro, eles em nada se preocupam sobre os danos que nos infligem! E como sendo o caso, gostaria de perguntar: o que aconteceu com a consciência que do céu foi implantado no peito de todos os homens?

Ouvimos dizer que no seu próprio país, o ópio é proibido com o máximo rigor e severidade: — esta é uma forte prova de que Vós sabeis muito bem como é prejudicial para a humanidade. Desde então Vós, que não permitis que ele venha a ferir o vosso país, não deveríeis ter a transferido droga prejudicial para outro país e, acima de todos os outros, muito menos para a China! Dos produtos que a China exporta para o exterior, não há um que não seja benéfico para a humanidade de uma forma ou outra. Tem China (gostaríamos de perguntar) acaso enviado um único artigo nocivo do seu solo? Para não falar do nosso chá e ruibarbo, coisas sem as quais o estrangeiro não poderia existir nem um único dia; se acaso nós, com rancor, negássemos o que é benéfico (não dizemos isso por querer vossa compaixão), então Vós poderíeis buscar meios para ainda existir?

E mais, no que diz respeito a sua lã, chamalotes e outros tecidos, se não fosse a Vós fornecidos os nossos tecidos nativos de seda crua, Vós nem ao menos poderíeis começar a procuzir tais tecidos! Nossos demais artigos alimentícios, como açúcar, gengibre, canela, etc, e os nossos outros artigos de uso, como o pedaço de seda, produtos, louças, etc, são todos de primeira necessidade para a vida de muitos de vossos filhos, a ponto de jamais conseguirmos contar quantos! Por outro lado, as coisas que vêm de seus países só servem para fazer presentes, ou para mera diversão. É exatamente o mesmo para nós se os tivermos ou não. Se, então, estes são de nenhuma conseqüência material para nós, porque nos seria difícil proibir e fechar o nosso mercado para eles?

A razão porque a nossa dinastia celeste livremente permite-vos tirar o chá, a seda e outros produtos, e encaminhá-las para o consumo em toda parte, sem a menor restrição ou rancor, não é por outro motivo, senão ser nosso desejo de, quando um lucro existir, que seja este difundido no exterior para o benefício de toda a terra!

Vossa honrosa nação tira o produto da nossa terra, e não somente Vós, assim, podeis obter alimento e suporte para vós mesmos, mas por outro lado, por voltar a vender esses produtos para outros países, Vós colheis um lucro triplo. Agora, se Vós deixásseis de vender somente o ópio, este lucro triplo ainda será garantido a Vós. Como podeis, então, querer renunciar tal lucro [benéfico] por um medicamento que é prejudicial aos homens, numa ânsia desenfreada pro lucros que parece não conhecer limites? Vamos supor que os estrangeiros viessem a vós, trouxessem de ópio à Inglaterra e seduzissem o povo de vosso país para fumá-lo, Vós não iríeis, como soberana do país em questão, olhar para tal procedimento com ira, e na sua justa indignação efetuar todo esforço para se livrar dele?

Agora temos sempre ouvido dizer que Vossa Alteza possui um coração bondoso e benevolente, então certamente Vós sois incapaz de fazer ou inflingir a outro aquilo que Vós não quereis mais que vos seja feitos! Temos, ao mesmo tempo, ouvido dizer que vossos navios que vêm para Cantão é, cada um deles, portador de um documento concedido pro Vossa Alteza, em que estão escritas estas palavras: "A vós não será permitido o transporte de mercadorias contrabandeadas,"; isso mostra que as leis de Sua Alteza são, na sua origem, tanto distintos quanto severos. Assim, só podemos supor que, porque os navios os quais chegam aqui têm sido muito numerosos, não tem sido dada a devida atenção à pesquisa e análise destes. É por esta razão nós agora endereçamos este documento público, a fim de que Vós possais saber claramente como severas e graves são as leis da dinastia da Terra Central [interior da China], e certamente Vós fareis com que elas não sejam mais violadas precipitadamente!

Além disso, ouvimos dizer que em Londres, a metrópole onde habitam, como também na Escócia, Irlanda e outros lugares, o ópio não é produzido. É apenas em diversas partes de seu reino colonial do Hindustão [parte da Índia], como Bengala, Madras, Bombaim, Patna, Malwa, Benares, Malaca, e outros lugares onde as montanhas são cobertas com a planta do ópio, onde os tanques são feitos para a preparação da droga; mês a mês, e ano após ano, o volume de veneno tem aumentado, o seu fedor imundo ascende, até que o céu se volte com raiva, e os deuses vos observem muito indignados! Porque a terra há de ser limpa de novo, e semear em seu lugar o cinco grãos [refere-se a arroz e outros cereais considerados puros], e se alguém ousar novamente plantar um só pé de papoula, que vós possais conferir a seu crime com a punição mais severa. Através de uma atitude governamental verdadeiramente benevolente esta, Vós ireis ter verdadeiro ganho, e acabar com uma fonte do mal. O céu irá apoiá-la, e os deuses irão vos coroar de felicidade! Para vós ficará si a bênção de vida longa, e desta procederão a segurança e a estabilidade de vossos descendentes!

Em referência aos mercadores estrangeiros que vêm à nossa terra, a comida que eles comem, e as moradias que lhes dizem respeito, tudo procede inteiramente da bondade de nossa dinastia celeste: os lucros que eles colhem, e as fortunas que se acumulam, têm sua origem apenas na medida em que parte do benefício que a nossa dinastia celeste gentilmente lhes atribui-lhes. Como estes passam a menor parte do seu tempo em seu país, e a maior parte no nosso, seguimos um costume advindo tanto dos tempos antigos como dos modernos segundo o qual devemos conjuntamente admoestar e, claramente, tornar conhecidos o castigo que os espera.

Suponde [soberana,] que o destino de outro país seria vir para a Inglaterra para o comércio, ele certamente seria obrigado a respeitar as leis da Inglaterra. Então quanto mais isso se aplica a nós do império celestial! Agora é um estatuto fixo deste império, que qualquer nativo chinês que venda o ópio é punido com a morte, e até mesmo aquele que só o fumam, não deve ser menos punido. Parar e refletir por um momento: se os estrangeiros não trouxessem o ópio para cá, onde o nosso povo chinês iria obtê-lo para voltar a vender? E, ainda, os estrangeiros que envolvem os nossos nativos simples no poço da morte, poderão [de seu crime] apenas eles escapar vivos? Se tanto como um daqueles privar que um do nosso povo de sua vida, deverá perder a sua vida em retribuição pelo que ele tomou, quanto mais isso se aplica a quem, por meio de ópio, destrói seus semelhantes? Será que o caos que ele comete [pode continuar a] parar com uma única vida? Por isso é que os estrangeiros que agora importam ópio na Terra Central estão condenados a ser decapitados e estrangulados pelo novo estatuto, o que explica o que dissemos no início cerca de arrancar a árvore do mal, onde quer que se enraíze, para o benefício de todas as nações.

Tivemos ainda que encontrar, durante o segundo mês do presente ano, o superintendente do vosso honroso país, Elliot. Este, vendo a lei em relação à proibição do ópio como excessivamente grave, devidamente pediu-nos "uma extensão do prazo já limitado, dizem cinco meses para o Hindustão e as diferentes partes da Índia, e dez para a Inglaterra, depois do que eles iriam obedecer e agir em conformidade com o novo estatuto", e outras palavras para o mesmo efeito. Agora nós, o Alto Comissário e colegas, após fazermos um memorial devidamente preparado para o grande imperador, temos de nos sentir grato por sua bondade extraordinária, por sua compaixão redobrada. Qualquer um que no próximo ano e meio por engano vier a trazer ópio para este país, e vier a se apresentar voluntariamente, e entregar toda a quantidade, será absolvido de toda e qualquer punição por seu crime. Se, no entanto, o termo designado houver expirado, e ainda haver pessoas que continuam a trazê-lo, então, devem tais pessoas ser enquadradas como tendo conscientemente violando as leis, e serão com toda a certeza condenadas à morte! Em nenhuma circunstância devemos mostrar misericórdia ou clemência! Isso então pode ser chamado verdadeiramente ao extremo de benevolência, e muito mais de perfeição da justiça!

A maioria certamente possui uma medida de divina majestade que não podeis imaginar! Porém não podemos matar ou exterminar sem aviso prévio, e é por essa razão que nós agora claramente vos damos a conhecer as leis fixas da nossa terra. Se os comerciantes estrangeiros dissessem que o desejo do vosso honroso país é para continuar suas relações comerciais, então eles devem obedecer, tremendo, nossos estatutos registrados. Eles devem cortar para sempre a fonte da qual os fluxos de ópio, e de modo algum, querer experimentar [o rigor] de nossas leis em si mesmos! Vamos então [levar] a sua alteza [para] punir os assuntos que possam ser de natureza criminal, em vez de se esforçar para projetá-los ou escondê-los, e assim Vós ireis assegurar a paz e a tranqüilidade de vossos bens, assim Vós tereis, mais do que nunca, mostrado um bom senso de respeito e obediência, e, assim, unidos podemos desfrutar das bênçãos comum de paz e felicidade. Que grande alegria! Que felicidade mais completa poderá ser!

Possa Vossa Alteza, imediatamente após o recebimento desta comunicação, não deixe de informar-nos rapidamente do estado de coisas, e da medida que Vós estiverdes buscando totalmente para pôr fim ao mal do ópio. De forma alguma venha [Vosso país] encontrar desculpas ou procrastinar. A comunicação [deve ser] o mais importante.

PS: anexo um resumo da nova lei, agora prestes a ser posta em vigor.

"Qualquer estrangeiro, ou estrangeiros, trazendo ópio para a Terra Central, com projeto de vendê-lo, [saiba que] seus líderes serão seguramente decapitados, e os ajudantes estrangulados, e de todos os bens (que se encontrarem a bordo do dito navio) devem ser confiscados. O espaço da um ano e meio é concedido, dentro do qual, se houver ópio trazendo por engano, [quem o houver trazido] e, voluntariamente dar passo em frente e entregá-lo a nossos superiores, este deve ser absolvido de todas as conseqüências de seu crime.”

Tal édito imperial foi recebido no dia 9 do mês 6 do ano 19 de Taoukwang, no qual o período de graça [ou seja, o espaço de tempo acima mencionado] começa, e vai até o dia 9 do 12 º mês do ano 20 de Taoukwang, quando é concluído.


Source: Fonte:

Chinese Repository, Vol. 8 (February 1840), pp. 497-503; reprinted in William H. McNeil and Mitsuko Iriye, eds., Modern Asia and Africa, Readings in World History Vol. 9, (New York: Oxford University Press, 1971), pp. 111-118.© Paul Halsall, October 1998 http://www.fordham.edu/halsall/mod/1839lin2.html

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (última parte)

Resistências

•A Revolta Taiping: Em 1851, eclodiu uma revolta de camponeses, que se espalhou da comarca de Yang-Tsé para outras regiões chinesas. Conhecida como a revolta Taiping, só foi sufocada em 1864.
•No fim do século XIX, Grã Bretanha, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão dividiam o imenso território chinês em diversas esferas de influência
• Tal condição vexatória na qual a China se encontrava, com perda da sua soberania e territórios, levou a outras revoltas de caráter nacionalista. O principal movimento contra o europeu na China é conhecido como Levante dos Boxers.
Pintura a óleo, reproduzindo o ataque das tropas imperiais chinesas à revolta de Taiping, publicada no jornal “L´Ilustracion”, de setembro de 1853. Pintor anônimo.
http://www.1st-art-gallery.com/thumbnail/133195/1/The-Chinese-Imperial-Troops-Attacking-The-Taiping-Rebels,-From-$27l$27illustration$27,-September-1853.jpg

Resistências: a guerra dos Boxers
•Os nacionalistas chineses reagiam contra intervenção estrangeira e ao tíbio comportamento da dinastia Manchu, então ocupante do trono imperial. No Norte da China, uma associação secreta, denominada Sociedade Secreta Harmoniosos Punhos Justiceiros, promoveu atentados e rebeliões contra estrangeiras e missionários cristãos.
•Em 1900, com respaldo popular crescente, os boxers (como eram conhecidos pelso europeus os membros da associação secreta) sitiaram o bairro ocupado pelas delegações estrangeira em Pequim. Foi o início da Guerra dos Boxers, que se espalhou das zonas costeiras para as cidades que margeiam o rio Yang-Tsé.
Cartão Postal alemão, usado em 1900, que satiriza soldados ocidentais durante a guerra dos Boxers na China, brigando entre si enquanto o chinês observa e sorri. http://collect.at/wordpress/?cat=33

Apoio aos boxers

•Evidenciando os muitos abusos cometidos pelos estrangeiros, a princípio a revolta foi reconhecida até por autoridades imperiais como uma insurgência legítima.
•Um dos cartazes espalhados por Pequim dizia "Odiamos profundamente os tratados que prejudicam o país e trazem calamidades ao povo. Os altos funcionários traem a nação; os baixos os seguem no jogo. O povo é injuriado mas não faltarão desagravos".
•Outros dos seus versos afixados nos templos chineses dizia: "quando os demônios de fora/ forem expulsos até o fim/ o grande Ching [a dinastia manchu reinante], unido, junto à nossa terra trará a paz enfim".Os rebeldes cercaram por 56 dias as legações estrangeiras que possuíam estavam na capital.

Litogravura. Chao (ou Tsao) Fu-tien, um dos líderes dos boxers.

A Guerra dos Boxers: o ocidente contra os “rebeldes”

•Apesar dos esforços do governo para suprimi-la quando passou a ser um problema, a Sociedade dos Boxers conta com o apoio popular crescente e promove rebeliões e atentados contra estrangeiros e missionários cristãos.
•Porém, todos os esforços se tornaram em vão e o levante foi abafado pelo exército formado por tropas ocidentais e japonesas.


Marinheiros australianos (a Austrália era colônia inglesa) na Guerra dos Boxers. http://homepage.powerup.com.au/~qdeck/sailors.JPG

•Para sufocar a rebelião, organizou-se uma junta internacional colonialista, com uma tropa composta por 20 mil soldados (japoneses; russo; ingleses,inclusive de colônias, como citado; americanos, franceses e depois por alemães) foi enviada para ocupar a sede imperial, onde penetrou em 14 de agosto de 1900.
•Os boxers, abandonados definitivamente pela imperatriz viúva Tsisi, foram cruelmente sufocados e suas lideranças decapitadas. "Arrasem Pequim!" - que seguissem o exemplo de Átila! essa foi a recomendação do imperador Guilherme II da Alemanha aos oficiais que partiam para a China.
•Depois dessa aberta e brutal intervenção militar, o outrora orgulhoso Império Celestial definitivamente tornara-se a "colônia de todas as metrópoles". Para infamar ainda mais as autoridades do império, os colonialistas obrigaram a que fossem chineses os carrascos que executaram as sentenças de morte dos principais líderes da rebelião de 1900.

Guerra dos Boxers na China: Postal usado na Alemanha, 1900.
Cartão postal satírico, alusivo a marinheiros alemães batendo em chineses. No canto superior direito, o retrato de Klemens von Ketteler, assassinado em Pequim em junho de 1900, início da Rebelião Boxer. http://collect.at/wordpress/?tag=boxer-rebellion

As rotas da guerra

•Mapa original de 1900. Ho Yi Tuan (Guerra dos Boxer) – Rotas de Invasão das 8 forças aliadas para Pequim e região.
•As chamadas 8 nações aliadas desembarcaram suas tropas em vários pontos da costa chinesa. O primeiro objetivo era remover o cerco dos revoltosos a Pequim, no entanto, a missão global foi punitiva, tanto contra os Boxers quanto contra as resistências chinesas.A luta terminou com a derrota dos chineses e a imposição pelas potências estrangeiras da política da "Porta Aberta", pela qual a China era obrigada a fazer novas concessões econômicas.
•http://www.drben.net/files/China/Source_Materials/China_Maps/Ching_Dynasty/Invasion_Routes_1T.jpg

O Ocidente sufoca a China

•Portanto, este breve resumo da história da China no século XIX, evidencia as políticas de expansão de poder ou dominação de um Estado ou sistema político sobre outros.
•Tal política, como já referido, é o imperialismo, cuja expansão se realiza através da conquista ou anexação de territórios, pelo estabelecimento de protetorados e, principalmente, pelo controle de mercados ou monopólios.
•A política imperialista não tem como objetivo necessariamente a expansão territorial e sim a ampliação do mercado através de uma política econômica liberal. Por sua vez, pode-se perceber que esta envolve sempre o uso da força e tem como conseqüência a exploração econômica, em prejuízo dos Estados ou povos subjugados.
•Além de exibir o imperialismo, a história chinesa no século XIX mostra o discurso nacionalista sendo assimilado pelos povos dominados, ou seja, pelas nações economicamente fracas.
•Nessa questão quanto à China, pode se perceber um discurso atual, no qual o nacionalismo é apresentado como fundamento para opressão, ou seja, mostra um discurso que ao nível externo resulta no expansionismo, mas internamente resulta em xenofobia.

Algumas referências

•ADLER, Solomon - La economia China, México, F.C.E., 1957.
•BIANCO, Lucien - Ásia Contemporanea, Madri, Siglo XXXI, 1976.
•BIANCO Lucien - Los origenes de La Revolución China, Caracas, T. Nuevo, 1970.
•CARR, E. H. - El socialismo en un solo país (1924-26), in História dela Rusia Sovietica, vol 3, 2ª parte, Madri, Alianza, 1976.
•CHANG, Iris - The rape of Nanking, Nova Iorque, Penguin Books, 1997
•LENIN, V.I., El despertar de Asia, Moscou, Ed. Progresso, 1979.
•MAO TSE-TUNG - Obras Escogidas, Pequim, L. Extranjeras, 4 vols, 1968.
•PISCHEL, Enrica - História da Revolução Chinesa, Lisboa, Europa-América, 3 vols, 1976.
•SPENSER, Jonathann D. - Em busca da China moderna, Companhia das Letras, São Paulo, 1966











domingo, 15 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (II)

As Guerras do Ópio

•Apesar da carta de Lin e dos avisos do governo chinês, o comércio prosseguiu, levando as autoridades chinesas a promover, em 1839, a queima de 20 mil caixas da substância na cidade de Cantão.
•Através desta reação, a China havia oferecido a Inglaterra tudo o que ela mais precisava para subjugar o território chinês ao seu mando, ou seja: um pretexto para a pequena ilha declarar guerra ao território continental da China.
•Os britânicos, em retaliação, declararam guerra à China: era o início da Primeira Guerra do Ópio.
Gravura:
Depósitos de ópio da Companhia das Índias Orientais na Índia:
uso de uma colônia para enfraquecer a China.
http://pt.wikipedia.org/wiki /


O tratante tratado

•Houve duas Guerras do Ópio, uma entre1839 e 1842 e a outra entre 1856 e 1860. Ao final, por meio de sua superioridade bélica, a Inglaterra aniquilou o poderio chinês, forçando o imperador manchu à rendição. Conseqüentemente, o governo imperial da China foi constrangido a assinar o Tratado de Nanquim, que colocou fim definitivo no embate, em 1842.
•O Tratado de Nanquim - principais cláusulas:
1.a abertura de cinco portos chineses ao livre comércio, em caráter permanente: Xangai, Ningpó, Fu-tcheu, Amói e Cantão;
2.a imunidade e os privilégios especiais aos súditos britânicos
3.regular as tarifas de comércio
4. transferir a cidade Hong Kong à Grã-Bretanha pelo tempo de 100 anos.
Gravura: Ataque inglês à China. http://www.iped.com.br/sie/uploads/10833.jpg

O dragão abatido

• Para a Inglaterra, este tratado assumiu o primeiro passo para suas grandes pretensões de transformar a população chinesa em um grande mercado consumidor, no qual os milhares produtos industrializados seriam comercializados No entanto, o mercado existente na China era para o ópio e não para os outros produtos britânicos.
• Para a China, o Tratado de Nanquim representou a abertura de precedentes para outras nações de caráter imperialista e perda de parte de sua soberania.
Gravura: vitória do Ocidente sobre o dragão Chinês: cartaz celebrando a vitória inglesa. http://img.terra.com.br/i/2008/08/13/835983-8688-cp.jpg
Observar as semelhanças com a iconografia de São Jorge, padroeiro da Inlgaterra.
A um tratado seguem outros: um mal nunca vem sozinho

•A perda de interesse nos cinco portos abertos anteriormente se tornou evidente, a miragem do mercado inesgotável continuava, logo, novos pretextos foram arrumados para se estabelecer mais duas Guerras do Ópio, travadas em 1856 e 1858, com apoio da França aos britânicos.
•Por causa destes dois combates, novos tratados foram assinados, evidenciando ainda mais a perda da soberania chinesa sobre seu território. Nestes tratados foi estabelecida a abertura de mais de 11 portos; jurisdição autônoma para os processos estrangeiros; liberdade de ação para as missões cristãs; direito de manutenção de representantes permanentes nas alfândegas chinesas, entre uma série de outros direitos que feriam o governo chinês.
Gravura:
Assinatura do Tratado de Naquim, o primeiro de uma série.
http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Nanjingtreaty.jpg/400px-Nanjingtreaty.jpg

Balanço geral dos tratados(1842 – 1901): o dragão agonizante

Gravura: Os “frutos” das guerras do ópio.
Detalhe: no fruto da papoula, a seiva.
•1842 - Tratado de Nanquim: a China concede à Inglaterra, em razão da sua derrota na 1ª Guerra do Ópio, a abertura de cinco portos, a entrega a ilha de Hong Kong em caráter perpétuo e uma indenização aos traficantes expropriados por Lin Zexu (o diplomata que enviou a carta à Rainha vitória), no valor de 6 milhões de liang de prata, mais 12 milhões aos ingleses como despesa de guerra.
•1843 - Tratado complementar de Hu-men: a Inglaterra recebe o tratamento de nação mais favorecida, fazendo com que suas mercadorias paguem apenas 5% de imposto ad valorem
•1844 - Tratado de Wangxia: assinado com os E.U.A. Todos os privilégios concedidos aos ingleses são estendidos aos americanos , inclusive o direito de enviar barcos de guerra aos portos abertos ao comércio para proteger os interesses dos negociantes americanos. 1844 - Tratado de Huangpu: assinado com a França. Confirma os privilégios concedidos nos tratados anteriores, mais o fim da proibição de difundir o catolicismo nos portos abertos ao comércio.
•1858 - Tratado de Tianjin: assinado com a Grã-Bretanha, Rússia, E.U.A.e França, como resultado da derrota chinesa na 2ª Guerra do Ópio (1856-1860). Estabelecimento de delegações estrangeiras em Pequim. Abertura de mais 10 portos chineses ao comércio internacional ( Niuzhuang, Dengzhou, Tainan, Danshui, Chaozhou, Qiongzhou, Hankou, Jiujiang, Nanjing e Zhenjiang). Livre trânsito dos estrangeiros, particularmente dos missionários cristãos, pelo interior do país e livre navegação dos barcos de guerra. Indenização de guerra a ser paga à Inglaterra (4 milhões de onças de prata) e à França (2 milhões). Os tratados sino-britânico e o sino-francês, em 1860, aumentaram o valor para 8 milhões de onças de prata. Os ingleses ampliaram seu domínio na região de Hong Kong ao se apropriarem da península de Kaulun. Legalização definitiva do comércio de ópio administração alfandegária conjunta de ingleses e chineses. Em 1860, outorgou-se a sir Robert Hart o cargo de Inspetor Geral das Aduanas, mantida até 1908.
•1858 - Tratado de Aihui, assinado com a Rússia, que, complementado com uma série de outros tratados , fizeram a China ceder 1.500.000 km2 do seu território. Em 1881, pelo Tratado de Yili, mais 90 mil km2 foram entregues aos russos., juntamente com os portos de Vladivostok e Port Arthur.
•1895 - Tratado de Shimonoseki, assinado com o Japão, como resultado da derrota chinesa na guerra sino-japonesa de 1894-5. A China cedeu a península de Liaodong ( mais tarde arrendada à Rússia por 25 anos), a ilha de Taiwan ( Formosa) e mais 235 pequenas outras ilhas, o arquipélago de Penehu ( ilhas dos Pescadores) e uma indenização de 200 milhões de liang de prata. Abriu também as cidades de Shanshi, Chongqing. Suzhou, Hangzhou e aceitou a tutela definitiva do Japão sobre a Coréia.
•1897 - Arrendamento da baía de Jiazhou por 99 anos à Alemanha, bem como a permissão da construção de uma estrada de ferro ligando Jiaozhou a Jinan, com direitos de exploração das minas encontradas a 15 km de cada lado dela. Depois do Tratado de Versalhes, de 1919, a China reivindicou o controle dessa região, mas as potências coloniais entregaram-na ao Japão, o que gerou o Movimento de Maio de 1919, início da rebelião estudantil- nacionalista chinesa contra o domínio colonial
•1899 - Política de “portas abertas” proposta pelos EUA, pela qual todo o país que tivesse obtido concessões da China as repartiria com os outros, com “igualdade de oportunidades” e “divisão conjunta dos benefícios ”. Anuíram: Inglaterra, Rússia, Alemanha. Japão, Itália e França .
•1901 - Protocolo dos Boxers ( Movimento Yiethuan), assinado pelo governo Qing com as 8 potências colonialistas, devido à sangrenta intervenção militar destas em Pequim para sufocar a rebelião nacionalista dos boxers (Yiethuan), que cercara as legações estrangeiras na capital imperial.Cláusulas: indenização de 450 milhões de taéis (U$ 333 milhões), a ser paga pela China durante os 39 anos seguintes, até 1940, quando atingiria quase 1 bilhão de taéis. O governo imperial ficou encarregado de executar os principais líderes do levante.
•Os chineses não poderiam mais entrar nos bairros das delegações estrangeiras, as quais poderiam, porém, cercar suas tropas; também foram obrigados a desmontar a fortaleza de Dagu. Na prática, Pequim poderia ser ocupada quase imediatamente por qualquer guarnição estrangeira acampada nos seus arredores.

O dragão ferido
Gravura:
O dragão: sagrado na China, representa o mal no Ocidente, não por mera coincidência.

•Estes tratados produziram na um grande impacto negativo sobre sua produção artesanal, causando desemprego e fome; uma maior repressão à população camponesa; monopólio da educação pelas missões francesas; e, o mais grave: a perda praticamente total da soberania do governo chinês sobre seus territórios.
•Karl Marx assinala, sobre a questão: “a primeira condição de preservação da Velha China era seu total isolamento. Uma vez que a Inglaterra deu fim brutal a esse isolamento, a decomposição sobrevirá com a mesma inexorabilidade de uma múmia retirada do hermético sarcófago em que estava preservada e exposta ao ar livre” ( MARX, Karl. Revolution in China and in Europa in http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/china_3.htm)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Assediando o Império Celestial (I)

Os próximos posts foram adaptado de aula expositiva-dialogada. As referências virão ao final das postagens.

•Durante muito tempo, a China foi comercialmente assediada pelos países europeus. As inúmeras tentativas ocidentais de estabelecer um comércio fixo com o Reino Celestial indicavam o desejo por mercadorias chinesas, tais como: seda, porcelana e chá.
•Contudo, o império manchu nunca viu com bons olhos uma possível relação comercial com a Europa e sua posição sempre foi de quase total fechamento ao mercado externo.





O início do assédio
•Esta atitude era evidenciada pelas poucas transações comerciais existentes, que eram autorizadas em alguns poucos portos ao sul, principalmente em Cantão. No mapa, a região aparece como Guandong: http://www.cao.pt/image/cantao.gif

•Este foi o panorama que vigorou até o início do século XIX, período marcado pela expansão da industrialização européia, e, conseqüentemente, pelo surgimento das grandes potências imperialistas.


Ópio contra a China

•Assim, nos séculos XVII e XVIII, os europeus encontravam dificuldade para comerciar no interior da China. O governo central colocava empecilhos aos comerciantes estrangeiros que, mesmo assim, foram pouco a pouco penetrando no país. Ao contrário da Índia (onde se comerciava diretamente com os príncipes locais), a China mantinha sua unidade política, com o imperador fazendo sentir sua autoridade sobre as mais distantes províncias. Para cada negociação, o estrangeiro tinha de relacionar-se com o governo central.
•No século XIX, no entanto, o poder central praticamente já não detinha autoridade sobre o seu território. Inicialmente, os britânicos compravam chá, sem conseguir vender aos chineses algum produto em igual quantidade, mas descobriram que o ópio era uma mercadoria de grande aceitação entre a população chinesa. Com aprovação do governo britânico, a Companhia das Índias Orientais lançou-se à venda do ópio, que era produzido na Índia e na Birmânia, com efeitos terríveis.

Papoula, matéria-prima do ópio.



Ópio: a ruína do Império.
•Infiltrando-se na Índia, através da Companhia Britânica das Índias Orientais, a Inglaterra descobriu uma maneira de acabar com o protecionismo da China.
•Adjacente ao território chinês, e, sendo a maior produtora de ópio do período, a Índia se tornou fornecedora do produto que arruinou o isolamento comercial do império manchu.
•Este entorpecente logo se transformou em uma praga entre chineses, e, seu contrabando foi considerado muito lucrativo para Inglaterra, principalmente, à medida que este entorpecente virou moeda de troca para obtenção de mercadorias chinesas.
•Porém, a Inglaterra investindo no comércio do ópio no território chinês, conseguiu apenas uma parte de seus objetivos, pois suas pretensões eram maiores e não se resumia apenas no comércio dos apreciados produtos chineses.



A China reage: a carta de Lin e a nova lei chinesa(1839)


•Com o tempo, o ópio começou a provocar vários malefícios na população chinesa, provocando uma atitude do governo manchu a este produto, que tanto prejudicava seu povo.
•O governo chinês reagiu enviando uma carta diplomática à rainha Vitória, da Inglaterra, para que a Soberana proibisse o comércio de ópio ilegal na China. Mas o pedido não foi levado em consideração.
•Em 1839, o imperador chinês mandou executar uma política sistemática de confisco do ópio contrabandeado no porto de Cantão, assim como, a prisão e expulsão de seus principais mercadores.
•Mapa: http://www.historianet.com.br/imagens/neocolonialismo2.jpg

A China cercada de colônias:
1.Britânicas
2.Francesas
3.Portuguesas
4.Alemãs
5.Japonesas
6.Holandesas